Cristalina (XIV)

O caminhão vinha ladeira abaixo quando colidiu com o pequeno veículo (wrecking ball) e literalmente separou o casal que cruzava de uma margem para a outra a BR 040 naquele fatídico trecho próximo à Cristalina. Zé Lobó, Zé das pedras, Zé dos cristais, homem do ciúme doentio, sentado no banco do motorista, o lado atingido, não resistira aos ferimentos e ali mesmo se despedira da Maria. Sentada no banco do carona, muito ferida, ela sobrevivera mercê dos cuidados dispensados pelo corpo médico de um hospital público de Luziânia nas três semanas seguintes ao acidente.

Reaproximemo-nos do Alessandro, já sem o pai.

A pujança financeira do jovem era evidente aos olhos da vizinhança. Edificada no terreno de propriedade da família – herança recebida pelo Zé e de conseguinte objeto de outro inventário -, a casa do Alessandro e de sua esposa, por quem ele não raro se declarava apaixonado (sinto que novamente antecipo trechos), destoava das demais: espaçosa, piso cerâmico de boa qualidade, sofás confortáveis, televisão havia pouco lançada no mercado, móveis de sala brilhosos e cama de casal cravejada de luzes de neon (gosto não se discute, ensinavam nossos avós).

Vidinha que transcorria sem sobressaltos, num corte pequeno burguês. A bela moça se casara com o nosso personagem já mãe de duas crianças, formando-se logo em seguida um trio pela chegada em parto normal (coisa rara hoje em dia, infelizmente) da filha dos dois, crianças todas elas queridas, nada de meia-irmã, como se proviessem as três do mesmo pai, um drible fraterno na genética.

Até que a Maria passou a me dar telefonemas quase diários estranhando o comportamento do filho, ensimesmado, arredio, resmungando pelos cantos. Logo o primogênito, sempre alegre, loquaz, presente na vida dos irmãos e irmãs, apegadíssimo à família  toda…

http://www.taringa.net/posts/info/14080846/Calibres-de-Armas-Aclaracion.html
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A pontaria do Alessandro foi duplamente certeira. Com um tiro ele matou a esposa e com o outro suicidou-se, saindo da vida para entrar nesta história.

Encerro o capítulo Cristalina  e deixo a família em paz.

 

12 de maio de 2015

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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