Obsessões musicais XXIX

Gastar tempo com superioridade moral, empurrando para os outros o seu suposto bom gosto, é tão chato quanto inútil. Enquanto você fica no alto do seu pedestal dando sermão, as pessoas estão lá embaixo se divertindo.
– Leo Aversa –

Não sou daquelas pessoas que podem ser rotuladas de carnavalesca. Ao contrário. Fracasso na avenida, fracasso no bloco, fracasso no bloquinho (cuidado ao chamá-lo assim em determinados locais em que se esbaldam grupo de foliões e folionas), fracasso nos clubes (ainda existem esses bailes?).

Interessante é que, por virtude das peripécias da Dayse de Hansa, produtora do Teatro Mapati e de milhões de produções artísticas e culturais por aí, fui jogado de modo oblíquo, através da AAMA – Associação Artística Mapati, no Plataforma da Diversidade, projeto de Carnaval destinado ao público LGBTQIA+ em predominância e concluído nessa terça-feira gorda com mais de quinze mil participantes que se espalharam pelo Estacionamento 09 do Parque da Cidade de Brasília.

Após o sucesso estrondoso do evento (meus emocionados agradecimentos aos/às organizadores/as), iniciei minha quarta-feira de cinzas desse Carnaval da retomada, da recuperação, do renascimento das trevas assistindo a especial gravado há quase vinte anos cuja protagonista é Maria Bethânia. Resulta despiciendo falação ou audição dessa mulher mística e visceral que, não bastasse ser a filha que foi e a irmã que ainda é, deu de ser artista, em curta carreira de mais de cinco décadas.

O que também ressaltou do documentário passado no canal Bis foram as imagens do meu Rio de Janeiro, cidade que me vira sair amarelinho da casca de ovo no pré-histórico março de 1953. Aquele bondinho de Santa Tereza, com o pessoal encarapitado no estribo mesmo diante de inúmeros bancos de madeira vazios, arranca lembranças e faz sofrer quem é da Cidade Maravilhosa – sem detrimento da “origem” na Cidade Céu, porque este blogueiro ubíquo “nasceu”, acreditem, nas duas capitais.

Desconheço a impressão de James Taylor sobre o Quadradinho do Cerrado, se é que em algum momento ele exprimiu algo a respeito da cidade que aterrizou no ermo. Todavia, sei, e milhares o sabem, a paixão que o magistral cantor e compositor americano tem pela Guanabara, o antigo, o belíssimo nome da capital do Estado do Rio de Janeiro, que resiste até hoje emoldurando a Baía da boca banguela na comparação feita pelo antropólogo francês Claude Lévi-Straus, apud Caetano Veloso. Esse amor foi despertado no artista dos EUA durante o célebre Rock in Rio de 1985, a que não fui e por isso me mordo de inveja toda vez que lembro do festival.

Hora de calar para ouvirmos a homenagem ao balneário mais lindo do mundo, que tem no backing vocal o auxílio luxuoso de um jovem artista promissor:

https://www.youtube.com/watch?v=JWRlaYkIKgM

Duvidam das qualidades do menino Bituca?
Então, vai mais um link, verdadeiro bônus pelo tempero do Naná Vasconcelos:

https://www.youtube.com/watch?v=N4RFZC4er5M.

Apenas Um Sonho No Rio

Mais do que uma terra distante
Além de um mar brilhante
Mais do que o verde úmido
Mais do que os olhos brilhantes

Bem, eles me dizem, que é apenas um sonho no Rio
Nada poderia ser, tão doce quanto parece
Neste primeiro dia aqui
Eles me lembram, filho, você já esqueceu
Que geralmente, está estragado por dentro
E o disfarce, logo cai

Gosto estranho de uma fruta tropical
A língua romântica dos portugueses
Uma melodia numa flauta de madeira
O samba flutuando na brisa do verão

Está tudo bem, você pode ficar dormindo
Você pode fechar os olhos
Você pode confiar nas pessoas do paraíso
Para chamar o seu acompanhante
E lhe transmitir suas despedidas

Que noite maravilhosa, uma em um milhão
Estrelas brasileiras de frio e de calor
Ah, santo Cruzeiro do Sul
Mais tarde, me levam pra cidade numa lata velha
Não consigo mais descer do palco
E não me surpreendo, quando eles dizem

Quando a nossa mãe acordar
Andaremos ao sol
Quando a nossa mãe acordar
Cantará pelo sertão
Quando a nossa mãe acordar
Todos os filhos saberão
Todos os filhos saberão
E regozijarão

Alcançado pelos raios do sol nascente
Fugindo da arma do soldado
Os gritos no meio da multidão zangada
O passivo, o selvagem e a criança faminta
Eu lhe digo que existe mais do que um sonho no Rio
Eu estava lá naquele dia
E meu coração voltou a viver
Havia mais
Mais do que as vozes cantando
Mais do que os rostos me olhando
E mais do que os olhos brilhando

Mas é mais do que o olho brilhando
Mais do que o verde úmido
Mais do que as montanhas escondidas
Mais do que o Cristo de concreto
Mais do que uma terra distante
Além de um mar brilhante
Mais do que uma criança faminta
Mais como se fosse outro tempo
Nascido há um milhão de anos
Mais do que um milhão de anos

#Leo Aversa
#James Taylor
#Milton Nascimento
#Naná Vasconcelos

(359)
04/03/2023
mmsmarcos1953@hotmail.com

Um comentário

  • Fernando Ferreira de Souza

    Bacalhau,bacana terra de santa cruz o eu lírico entra em cena,desculpe-me a minha subjetividade ó Marcos mas para tal cabe… tal não concretude neste vicioso invirtuoso comentário destituído de todo caráter objetivo.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *