Poemas de uma carioca desgarrada (VIII)
Neste dezembro, completam-se dez anos do embarque do meu pai. Vivo fosse, já o disse aqui, estaria com 90 anos.
Porque maltratados… esquecidos… encobertos pelo brilho natural do pai (e da mãe), filhos existem por aí que pouco se abalam com o passamento de quem os pôs no mundo.
Tenho saudade dele e da minha mãe e, na medida do possível, venho esparsamente relembrando-os em postagens neste meu enclave.
Anoto que não possuo talento para a prosa contagiante. E muito menos para a forja do poema, daí a Norma ser obrigada mais uma vez a se desapegar da visão dos belos horizontes para o mister da saudação ao meu velho, que é o dela também.
ORFANDADE
Sou órfã de pai,
Afã de vida,
Alegria que incomoda,
descentraliza
dos meios hipócritas,
Apócrifos,
Ateu.
Pai, onde você está?!
Em seu quarto,
quase vazio…
Estou órfã da sua voz,
de sua ironia,
de sua insistência
em permanecer vivo!
A cama está órfã…
A cadeira…sem balanço.
Estou órfã de estrada,
órfã de abraço,
de risada,
de carinhos,
de caminhos.
Seu carrinho, ali, nos brinquedos,
sem roda, quebrado.
Pai, manda um recado!
Deixa gravado na secretária…
Também ficou órfã,
Desligada da tomada,
Sem você…nenhuma chamada.
Envia um e-mail celeste!
Estou órfã de direção,
Sem você, perdi o norte,
também o sul, e o oeste,
Sei nem, mais, onde está
o lugar onde nasce o sol,
o leste….esse que, de
esperança, já não mais
me veste.
(nORMA mARtINS
– bSB,04/mAR/2006)
17 de outubro de 2014
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