Quem cuidará de nossos pais? (III) 

O Bacen tem um periódico, Conexão Real, que veicula assuntos respeitantes não só aos interesses diretos e funcionais dos servidores e servidoras do seu quadro (da ativa ou não) – o chamado público interno. (Devo esclarecer que uso um pouco angustiado essa expressão; ela me lembra a referência que nos sombrios tempos da ditadura militar se fazia à turma dos quarteis). O jornalzinho é oficial, coordenado pela área de comunicação da autarquia, aborda tópicos da macro e da microeconomia, do setor bancário e se estende, em boa linguagem, para outros temas de curiosidade geral.

A Edição 280, de 10 do corrente, trouxe uma palestra da Dr. Judy Robbe,  gerontóloga e consultora familiar em síndromes demenciais. O nome da especialidade provoca arrepios, que se acentuam à medida que vamos conhecendo os ensinamentos expostos pela médica londrina.

Salienta-se na reportagem que estudos da Harvard Medical School, em Boston (EUA), dão conta de que “o ser humano começa a sentir a memória falhar aos 20 anos. Aos 30, o cérebro começa a perder volume, mas é a partir dos 40 anos que surge a dificuldade de memorizar fatos recentes. Aos 60, o volume cerebral está 25% menor do que na juventude.”

Após alinhavar causas do Alzheimer, a palestrante afirma que a doença diagnosticada é infensa a quaisquer atitudes para reduzir seu avanço. Em situações dessa natureza, aconselha que a família intensifique os cuidados com o(a) paciente, certo que “dividir as tarefas e as atividades com a pessoa com Alzheimer é mais importante do que fazê-la se sentir incapaz. Ela é adulta e precisa se sentir como tal, ter responsabilidades.”

Isso posto, peço novamente anuência a Marleth Silva para continuar a transcrição de trechos do prefácio do seu livro, a qual arrematou nossa postagem anterior e finalizará esta matéria também:

http://movimentosdeinclusao.blogspot.com.br/2013/04/pessoas-com-deficiencia-idosos-e.html
http://movimentosdeinclusao.blogspot.com.br/2013/04/pessoas-com-deficiencia-idosos-e.html

“(…) Os cuidadores são sempre severos consigo próprios – parece haver uma relação entre a disponibilidade que estas pessoas têm para sacrificar-se por seus pais e esse grau de auto-exigência exagerado. Querem fazer o máximo e definem o que é o máximo unicamente pelas necessidades de seus pais, nunca por seus limites físicos e emocionais. Culpam-se por não fazer mais, maltratam-se por deixar seus próprios sentimentos aflorarem de vez em quando(…).

“Os cuidadores criam mitos e, por conveniência, o resto da família pode aceitá-los. O pior mito é o de que não existe ajuda para o cuidador. A ajuda existe, sim! Basta procurar por ela e aprender a exigi-la, quando necessário (…).

“A geração que hoje (lembremos que o livro aberto por esse prefácio é de oito anos atrás mas pouca coisa mudou de lá para cá) assume o papel de cuidadora vive a transição entre dois períodos. Sempre houve quem se encarregasse (ou fosse encarregado) de cuidar dos idosos da família(…) Por isso (pelo fato de os idosos passarem a viver mais, mesmo doentes), os cuidadores de hoje (2006) estão criando novos modelos de convivência entre familiares e idosos, novos padrões de cooperação dentro das famílias (…). Afinal, esse mundo de pessoas longevas que enfrentam as limitações do corpo idoso não vai acabar junto com nossos pais. Pelo contrário, é provável que nós mesmos vivamos ainda mais, repetindo a história, dessa vez no papel de quem precisa de ajuda.”

 

19 de novembro de 2014

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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