
Um Borges na esquina do cerrado
Um samba/Que tal um samba?/Puxar um samba, que tal?/Para espantar o tempo feio/Para remediar o estrago/Que tal um trago?/Um desafogo, um devaneio
– Chico Buarque –
É mais do que conhecida a crítica segundo a qual em Brasília não tem esquinas. Não tem mesmo. E daí? Os eternos insatisfeitos, como diria meu pai, fingem não saber que há outros aspectos tão mais sublimes e relevantes a singularizar a Capital Federal. Fico apenas com o céu.
Sou carioca, nascido no Bairro Peixoto, e morador na primeira infância do subúrbio de Lins de Vasconcelos e do Centro da Cidade. Numa confusa e lacunosa síntese, lembro que aportei (sem mar), no Distrito Federal, em agosto de 1962, bem depois da chegada de alguns primos e primas pelo lado paterno de minha família numerosa. Anos depois, a maior parte retornou à cidade do Rio de Janeiro, lá se restabelecendo em caráter permanente (eu, não; residi lá em 1968 e em 1982), enquanto o restante da parentada, ou aqui se consolidou, ou foi dar com os costados temporariamente ou definitivamente em outros municípios do Brasil – Fortaleza, São José dos Campos, Niterói.
Dos galhos dessa árvore, podo um parente que brincou à larga nessa variação BSB/RJ, tendo ademais expandido seus horizontes ao passar temporadas de meses e meses, como se nativo fora, em Salvador e Santos. Ele já transitou por este blog no longínquo 2013 (postagem nº 022) e no pouquinho mais recente 2018 (postagem nº 285), antes portanto do período de pesadelos e trevas. Na primeira passagem, apareceu como poeta do Beirute (da Asa Sul ou da Asa Norte, escolham.); na segunda, travestido de vovô pagodeiro.
Pela vertente postagem, esse meu primo de primeiro grau, 71anos recém completados, vem de ser novamente homenageado por mim na expectativa de que tais escritos desarticulados levem um pouco de alento a quem está em tratamento de saúde há mais de ano. E o faço também por virtude de seu talento, fenômeno comum na outra banda de sua família materna, formada por Marcio Borges e Lô Borges, habitantes do Clube da Esquina e decerto admiradores de sua obra artística, da qual pinço mais uma pérola.
Força, Mauricio de Assis Borges, sócio do Clube da Esquina do cerrado.

Heitor dos Prazeres
https://www.youtube.com/watch?v=b2xjbXUR15k
Que vida boa
Eu já fui paraquedista
Já fui bicheiro em Mauá.
Fugi muito da polícia
E briguei em mafuá
Frequentei casa de artista
Viajei pra descansar.
Essa vida de sambista.
Deixa muito a desejar.
Essa vida de sambista.
Deixa muito a desejar.
Que vida boa!
Deus do céu, que vida boa!
Quanto mais o tempo passa
Mais a gente fica à toa.
Fui pastor adventista.
Fiz macumba e patuá.
Fui porteiro, motorista.
Garimpeiro no Pará.
Joguei ronda, joguei bisca.
Fiz muito dado rolar.
Mas também já fui passista.
Pra poder me destacar.
Mas também já fui passista.
Pra poder me destacar.
Marinheiro que se preza
Leva o barco devagar.
Pescador que perde a hora.
Não acorda pra pescar.
Minha nega foi embora.
Me deixou sem me avisar.
Nessa noite ninguém chora.
E ninguém pode chorar
Que vida boa…
– Maurício de Assis –
#Chico Buarque
#Marcio Borges
#Lô Borges
#Mauricio de Assis Borges – samba “Que vida boa”
02/10/2025
(382)
mmsmarcos1953@hotmail.com

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