A História é amarela 6 (Madonna)

Verdadeiramente nunca vivemos no futuro (nem no passado). Por outro lado, o que chamamos presente é apenas o momento de interface entre a memória reconfortante ou inquietante do que fomos e a antecipação, auspiciosa ou sinistra, do que vamos ser.
– Boaventura de Sousa Santos –

A história é amarela, e como o sol ela costuma aparecer fulgurante de manhã e se põe tardezinha lá no horizonte. Panorama de quase uma semana, já que agora atingimos o número 6, faltando, pois, apenas uma postagem para alcançar “7 dias”. É todavia irregular, errática, não há sequência nessa meia dúzia de postagens até então difundidas na proporção em que desde o início, em 29/09/2024, intercalei assuntos que nada têm a ver com o tópico.

Os tempos atuais são de Lady Gaga e seu show deste maio. As previsões generalizadas são as mais otimistas, seja pela satisfação do público que deverá comparecer à praia de Copacabana para o aguardado evento (cuja estrutura já montada é impressionante conforme pude verificar pessoalmente em viagem ao Rio de Janeiro na semana passada), seja pelo incremento financeiro dos cofres públicos em decorrência da explosão do turismo já praticamente assegurada.

Mas volto no tempo para falar de outra cantora americana, que aliás arrasou no mesmo local reunindo milhão de espectadores e expectadoras ensandecidos com sua performance musical. O mergulho não é no 2024, senão que em 25 de novembro de 1992, há trinta e três anos, número cabalístico.

Antes de ceder a palavra a Madonna, vamos conhecer o que disse sobre ela o entrevistador Elio Gaspari, um dos maiores jornalistas deste país. “Alimenta-se da inteligência de seus críticos. Ela transgride na exata medida em que a mandam recuar. Disseram que ela exacerbava a própria sexualidade, exacerbou-a. Disseram que havia tintas sadomasoquistas em seus shows, fez um álbum em que perto da metade das fotografias tem couros, chicotes e mutilações. Criou um ‘padrão Madonna de escandalização’.”

Se alguém duvida dessas observações, retro, que preste muita atenção no que adiante restará transcrito das falas daquela que sempre e sempre barbarizou.

Eu sou censurada porque procuro mostrar a verdade, e a verdade incomoda. A ideia de me conformar não me passa pela cabeça. Faço o que quero e vou continuar a fazer. Os artistas não devem se conformar;

As coisas que faço não são estranhas, e eu sempre fui como sou. Nunca pedi desculpas, nem vou começar a pedir. Pelo contrário, não vou parar minha luta (contra o racismo, o sexismo, a perseguição contra homossexuais);

Acho que há muita gente querendo que eu dê um mau passo, de qualquer tipo. São pessoas que no fundo têm medo de mim e fingem que pensam que eu vou morrer;

Eu tenho pena do que fazem com ela (princesa Diana). Todo mundo pega no pé dessa moça. Casou com um sujeito para ter e criar filhos. Cercaram-na de tal maneira que ela vive numa situação terrível. Tudo o que se escreve sobre ela é ruim, perverso. Deviam deixá-la em paz;

O falo é associado à masculinidade, à força guerreira. Eu tenho essas características na minha cabeça, não preciso tê-las entre as pernas;

Agora, damos uma pausa, sem porém sair do contexto – e da entrevista em foco. Trata-se daqueles jogos de pergunta rápida e resposta mais rápida ainda. O ping é o cirúrgico Elio Gaspari perguntando e o pong é a tempestuosa Madonna respondendo – que, em negrito, eu tomo a liberdade de assim destacar.