Sugar baby & Sugar daddy
O tempo vai colocando véus na memória, o que é ótimo, se não faltaria tarja preta no mundo para tanta consciência culpada.
– Leo Aversa –
As redes sociais nos ensinam(?): sugar baby é pessoa jovem, em regra, que se envolve em relacionamento com indivíduo bem mais velho e com situação financeira resolvida, o sugar daddy.
Em pactuação expressa, desenrola-se entre ela e ele oferta de apoio material (mesadas, viagens, presentes, planos de saúde), da parte de quem tem muita idade e muita grana, em troca de companhia, carinho, intimidade, da parte de quem tem pouca idade e pouca grana.
Um aparte: consoante Millôr Fernandes, dinheiro compra até amor verdadeiro. Cito outro grande jornalista, Reinaldo Azevedo, o moralismo é a moral deformada
Barreiras morais podem levar a questionamentos dessa parceria. Não enxergo sob esse prisma. Se não há violência, assédio, constrangimento, deixemos fluir o enrosco dos dois personagens, não se descartando eventualmente participação de terceiro no convívio, coisa rara, que pode acontecer sob o pálio do consenso do trio amoroso.
Entrementes, devo anotar que Marcelo M. de Souza, meu colega e meu alter ego, contou-me “episódio” por ele vivido nessa seara romântica. Disse-me não ter mais idade para essas liberalidades nem recursos econômicos para sustentar companheira açucarada. A não ser em sonho… Foi o que decorreu.
Nesse sono até então premiado, ele fruía os prazeres e os arrebatamentos investido no papel de Sugar daddy quando, de inopino, tudo virou pesadelo. Invadindo a privacidade de seu quarto de dormir e interrompendo o idílio, um cínico anticupido mostrou-lhe mensagem, que portava para nosso protagonista, de autoria de sua agora mais do que nunca arrependida e etérea Sugar baby.

“Querido Marcelo,
“Pensei muito antes de lhe escrever, não queria nem quero magoar ninguém, embora você ache que sou uma pessoa ríspida. Posso não ser meiga, mas não sou ríspida.
“É antigo o meu desejo de lhe confessar e nunca tive coragem: não gosto muito de velho. Não sou como minha irmã, que aprendeu a conviver com o maridão lá do jeito deles, se dão bem, namoram, viajam, passeiam, vão a clube (me chamam sempre; às vezes, vou). Nunca quis convidá-lo, não é por nada, é que fico embaraçada quando nós dois estamos juntos na frente de alguém, principalmente se da família.
“Mesmo que eu fosse apaixonada por você, nosso relacionamento doravante crescentemente se tornaria complicado, por motivos vários. De fato, gosto um pouco de você, na verdade apenas um pouquinho, mas preferiria vê-lo no máximo uma vez por semana e sem agarramentos. Aliás, até que para um velho você é um pouco animadinho nessas questões, digamos, afetuosas. Nesses anos todos de câmbio, de parceria entre nós, pelo menos umas três vezes, não me lembro quais, eu gostei.
“Isso ainda insuficiente, ainda tem o fantasma da sua ex-mulher, que lhe assombra muito. Além de explorar você como bem me disse minha amiga Silvia. Eu acredito que você ainda goste dela, não tanto como eu gosto do meu marido. Aliás, numa pegada mexicana, confesso que o amo com todas as minhas forças e diante de qualquer ameaça viro escorpião, ou melhor, leoa, tudo para defender o que é meu.
“Não são todos os dias, mas com muita frequência meu sobrinho Pedro Rocha pergunta por você, um dos poucos que o compreende. Também por isso, mantenho meu compromisso de deixar você brincar com meu filho uma vez ou outra, desde que você não o leve para brincar naquele teatro insuportável fundado por seu colega.
“Agradecida por todos os presentes.
“Um beijo (no rosto)
Karen”
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#Reinaldo Azevedo
10/11/2025
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