Injeção de ânimo

Nessa quinta-feira, 10.11.14, dois dias após a tragédia em sete atos, fui impensadamente fazer, no início da manhã, um movimento brusco com a perna direita e a lombar… a lombar tomou o rumo do espaço.

Aproveitei que a Tereza ia ao ortopedista e, com essa fisgada à la Di Maria, me apresentei como acompanhante “zeloso e desinteressado.”

Na clínica, ela levou uma injeção-monstro em cada joelho. É mais ou menos assim: a vítima senta-se (nada de posição horizontal), estaca-se à frente do carrasco e o profissional de branco, na posição de engraxate, toma do seringão com agulhão e infiltra o líquido mágico, inimigo da artrose e de outros males, acompanhado de xilocaína, pois do contrário ninguém suporta.

Estimulado por essa cena lírica e com a lembrança do choque de viúva na base da coluna, engatilho (nunca um verbo resultou tão apropriado) uma consulta, aquelas de encaixe.

Depois de três horas e meia, faminto (café às 7h30 e nada mais), um pouco enjoado, com dores, sempre em pé mas sem capa preta, sou atendido pelo simpático e experimentadíssimo médico. O verdugo, como injustamente ali em cima referido, me receita três remédios, entre eles, pavor, uma injeção.

Vou para a Rua das Farmácias e lá sou informado de que, nas redondezas da 102/302 Sul, apenas uma pessoa, cujo final do nome é o mesmo que o da minha mãe (Dulcinéa), aplica injeções. Já eram quase 15h e mais fraco ainda, tontão, aguardo minha nurse  retornar do almoço.

Peter Bono
Peter Bono

“Oi, tudo bem. É o senhor, né?” Senhor é a… “Dói?”, apressa-se em perguntar este corajoso blogueiro, que, na espera ansiosa, houvera visto na bula que o negócio não poderia ser no braço. “É, dói um pouco. Mas fique tranquilo, será feito bem devagar.”

Sambando que nem um gringo (não desses que vieram para a Copa, safos paca), pego a caixa de Alginac (meu remédio outrora parceiro porque era só drágea; não sabia da variação corto-contundente para agulha) e vejo que, para cada dose, são duas ampolas coloridas, uma delas vermelha, mais escura que sangue. Pensei: “Putz! É óleo na veia”, quer dizer, na veia não, é no músculo das nádegas (quem foi que inventou esse nome?)

“Não tem maca para a gente deitar?” A paciente – quer dizer, a atendente – com toda a paciência e compreensão (os homens precisam muito disso nessas horas terríveis) declara que é em pé mesmo, bastando relaxar que tudo se resolve. As mulheres são cruéis, menocabam sem nenhuma sutileza o desassombro dos representantes do sexo masculino. Não sabem que o cheiro evolado daquela pequena cabine branca, de porta sanfonada entreaberta, joga nas cordas qualquer herói – e olha que nos dias de hoje até seria mais fácil, uma vez que tudo é descartável e, portanto, não mais precisamos ficar olhando aquela latinha prateada com água que na nossa frente era fervida para esterilizar a seringa de vidro. Era a visão próxima do crematório.

 

12 de julho de 2014

(074)

mmsmarco1953@hotmail.com

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