Memórias/Memorialistas (VI)

Na televisão, nada se cria, tudo se copia (obrigado, Lavoisier; obrigado, Chacrinha). Na imprensa escrita e, mais particularmente(?), nos blogs, tudo se copia também. Melhor, não é “copia e cola”. Perdoando o eufemismo, trata-se em verdade de reaproveitamento de ideias.

Um dos maiores jornalistas do país, Elio Gaspari manda de vez em quando lá de sua coluna cartas psicografadas. Geralmente, são cascudos, coques, castanhas, mocas (é mocas mesmo, revisor, não tem cedilha) que grandes personagens históricos de esquerda, de centro e de direita desferem em políticos de esquerda, de centro e de direita – e isso de forma cruzada, ou seja, um direitão dá lições de vida num esquerdinha e vice-versa; um centrista passa ensinamentos aos tipos e por aí vai.

Longe de mim ombrear-me com o escritor que, esbanjando fidedignidade e percuciência, dissecou em quatro tomos a ditadura envergonhada, escancarada, derrotada, encurralada – mas enaltecida pelo extinto “Ombro a ombro”. Vou, sim, fazer a transposição (não é a do São Francisco) de um recado que da tribuna do plenário, no longínquo ano de 1960, Afonso Arinos de Melo Franco enviou a Conceição de Freitas. Nosso cultíssimo senador repassou as seguintes observações à jornalista do Correio Braziliense que admira muito Brasília, um pouquinho menos do que eu e o JK, nessa ordem:

http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/coluna/e-1.130/mata-ria-1168590-1.574222
http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/caderno-3/coluna/e-1.130/mata-ria-1168590-1.57422

“Prezada Conceição,

“Pessoalmente não tenho nenhuma hostilidade, não sinto nenhum impulso de resistência ou de combate, nem à mudança da capital em si mesma, nem à realização desta mudança para a cidade de Brasília… (…) êste rincão do Planalto Central, estas ondulações infinitas, estas lonjuras brasileiras falam muito de perto ao meu coração. Desde menino êsses nomes que aqui venho encontrando, nos caminhos penosos de penetração de outrora, hoje transformados na estupenda rodovia que conhecemos, ecoam na memória saudosa, na lembrança diuturna da minha casa patriarcal. Paracatu, Cristalina, Santa Luzia, Catalão, Formosa, a antiga Meia Ponte, hoje (putz, mais de cinquenta anos atrás) Pirinópolis, tudo isso… Dona Conceição, floriu, surgiu, cresceu, nasceu à beira do velho caminho das Minas, que ligava as Gerais à Vila boa de Goiás… Para mim, portanto, não é pròpriamente um exílio, senão uma reintegração, uma volta às raízes ancestrais, que ainda conheci há alguns anos, com aspectos muito semelhantes àqueles que tinham na época antiga da colonização.”

 

10 de janeiro de 2014

(036)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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