Poemas de um piauiense desgarrado (II)

“Um ônibus da linha 130 (Praça XV- Ipanema) passava por Copacabana, sentido Centro, por volta das 19h45m de segunda, quando um vendedor de livros de poesia quis subir. Mas o do volante achou que ele poderia atrapalhar o sossego dos passageiros:

“- Aí, parceiro, pra você não ficar triste vou fazer uma rima pra você. Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão. Passageiro agradece quando camelô fica fora do busão…”

Essa cena carioca foi reportada na coluna do Ancelmo Gois (Globo), parece-me que no dia 05.05.2014. Numa primeira leitura, o motorista repudia camelô, mas pode ser que ele não goste de poeta – ou a antipatia é pelos dois tipos.

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Por minha vez, mesmo não sendo um entusiasta dos versos, convido nosso bardo de Teresina para subir no ônibus, onde irá declamar mais um poema de exaltação à mulher, o qual foi selecionado no “Concurso Nacional Novos Poetas – Poesia Livre 2014”, promovido pela Vivara Editora Nacional.

A CIGANA MADALENA

Noite era e a bela lua cheia
tornava o bosque iluminado.
Seus velozes raios, sem peias,
eram bem-vindos convidados.

 No centro daquela clareira,
ajudando o luar vadio,
havia uma grande fogueira
queimando… era u’a cadela em cio.

Mulheres e homens se ajuntavam
em volta daquele luzeiro
e, ali, bebiam e dançavam
na esplanada daquele outeiro.

Os acordes de um violino
eram os senhores do ambiente…
era um instante mágico, lindo…
como só ocorre no oriente.

E o instrumento chorava, triste.
Chorava uma história de amor
não correspondido que, em riste,
cuspia, em pleno ar, sua dor.

Enquanto a música tocava,
daquela grande multidão,
surgiu u’a mulher, tal nu’a emboscada,
enfrentando aquela canção.

Era u’a moça muito bonita!
Suas curvas eram perfeitas,
seu riso era um aceno à vida…
era uma deusa… era uma eleita!

Morena, tal toda cigana,
aquela jovem se entregou
aos acordes como quem ama…
na música se extasiou!

Roupa de um vermelho vibrante,
cor envolvente da paixão,
mexia os quadris… cativantes
a qualquer viril coração.

A rosa branca em seus cabelos,
denunciando ingenuidade,
mais inflava aquele seu jeito
de grande sensualidade.

Cabelos livres, sem arreios,
eram grandes madeixas de ébano
que, impunes, cobriam seus seios
a debater-se a descoberto.

Saia longa, de amarelo ouro,
a se levantar, inquieta,
calava a voz do cantor rouco,
que cantava uma paixão incerta.

Como era bela Madalena,
dançando com grande leveza!
Certo é que Tróia e sua Helena
Render-se-iam à sua beleza!

E dançou ao som do violino
até que, mais que de repente,
talvez agindo por instinto,
alçou-se um homem daquela gente.

Pôs-se, adaga na mão, a dançar.
Aqueles belos olhos negros
olhavam-na e, como uma lança,
chispavam seu ardente desejo.

Aquele dançarino anônimo,
dono de corpo ágil e hercúleo,
com seus passos fortes, sinônimo
era de um cisne no Danúbio!

Enquanto isso, o ágil violino,
chorando sua canção triste,
por meio de acordes divinos,
tocava… ao amor era um convite!

Sob as bênçãos daquela lua,
rodopiaram na clareira
e, em grande paixão, louca e nua,
foram, longe, amar-se sem peias.

Corpos ardentes de ciganos,
abrasaram a sede de amor
livres, sob o luar profano,
sem a menor culpa, c’o ardor.

Lá se foi o casal, sossegado,
sentindo do amor as delícias…
lá estavam, a cigana e seu amado,
degustando suas carícias.

E aquela assembleia dançou
e, c’o o violino cigano,
sua origem, livre, lembrou…
dançou, bebeu e se acalmou.

E o violino, apaixonado,
seguiu a tocar outra canção
de amor sofrido e, já cansado,
calou aquela sofreguidão.

Hoje é noite de lua cheia!
Por que ao meu ouvido, sob teu encanto,
essa doce lembrança teima
e diz que era eu aquele cigano?

(José Rodrigues Martins Sobrinho)

http://almaemagiacigana.blogspot.com.br/2012/07/magia-e-historia-dos-ciganos.html
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04 de junho de 2014

(065)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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