
Take Me Back To Piauí
Memória e tempo são antagônicos. As lembranças são selecionadas, claro; mais do que isso, distorcidas. Mas é assim que sentimos as emoções, formamos o caráter e temperamos a vida.
– Paulo Pestana –
São quase inesgotáveis as matérias que saíram nos veículos de imprensa a propósito do Ainda estou aqui, abordagens as mais diversas, insuspeitadas. De par com a estética desse filme oscarizado, o público veio a tomar ciência de registros sobre os figurinos pós da Fernanda Torres durante périplo pelo mundo, entrecruzando oceanos, rasgando os céus dos Estados Unidos em busca do mercantilizado mas importante troféu do cinema.
Conhecemos em minúcias a vida da personagem incorporada por essa puta atriz – a brasileira, não a menina americana escolhida pelo júri da patota corporativista parametrizada por cânones trazidos pelos(as) profissionais ditos(as) marginalizados(as) que produziram e realizaram o filme a final vencedor. Sabe-se quase tudo. Marido tragicamente desaparecido induz aparecimento de uma nova mulher que toma a frente no intuito de resolver todos os problemas de uma família dilacerada. Fomos premiados com uma ficção que vira realidade e vice-versa, na medida em que, num movimento semelhante ao acontecido em A Rosa Púrpura do Cairo, dirigido por Wood Allen, a Eunice Paiva rompe a tela de filme em branco e preto e chega ao nosso plano colorido – quer dizer, nem tão colorido assim.
Em paralelo com seus atos de resistência (tomara o “resiliência” vá integrar língua morta), a então viúva tem sua vida dissecada em todas as plagas. Por dever de ofício ou não, resolveu-se que era de bom aviso pesquisar e compartir com terceiros a trajetória dessa verdadeira heroína. Se tem bambu, tem flecha (coitado do São Sebastião, padroeiro do meu Rio de Janeiro). A cada momento surge um escrito, um apontamento inédito acerca da trajetória de membros da família. Há poucos dias, foi divulgada uma reportagem a respeito de prédios em São Paulo construídos pelo engenheiro Rubens Paiva, a qual não li, porém devia.
Remergulhando no “Ainda”, já tem até apelido carinhoso, pulularam comentários de todo jaez. Analisaram-se os itens básicos, não nesta ordem: roteiro, enredo, direção, interpretação, fotografia, produção, trilha sonora. É aqui, nesse particular, que sem trocadilho eu embatuco. Falaram das músicas, inclusive uma do Roberto e Erasmo Carlos, não das melhores da dupla, porém até hoje não vi referência alguma a Take Me Back To Piauí.
Conjugar essa música com o filme, que sacação. O Juca Chaves, que, quando velho, deu uma endireitada, ofertara essa obra há mais de meio século. De conseguinte, o diretor Walter Salles, “Quem sai aos seus não degenera”, a endossa e já neste nosso tempo produz cena antológica, sobrepujando de certa maneira a época tenebrosa. O Rubens Paiva transcende em 1971, vítima da covardia e da maldade patológica e eu estacionado no meu último ano de alienadão, pois no subsequente 1972 ingressava na universidade para nunca mais me despolitizar. E nada mais apropriado do que a cena das crianças dançando acho que na sala, numa postura enquadrável no “nós vamos sorrir; sorriam”. Na tela do cinema, e com a ressalva de que tenho grandes amigos e amigas piauienses, descem os créditos, quando aproveito para assinalar em conclusão: o Juquinha no limite do sarcasmo e o corinho arrebentando na picardia.
https://www.youtube.com/watch?v=ApW0Gggu2ZU
Take Me Back To Piauí
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí
Adeus Paris tropical, adeus Brigite Bardot
O champanhe me fez mal, caviar já me enjoou
Simonal que estava certo, na razão do patropi
Eu também que sou esperto vou viver no Piauí
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí
Na minha terra tem Chacrinha
Que é louco como ninguém
Tem Juca, tem Teixeirinha
Tem dona Hebe também
Tem maçã, laranja e figo
Banana quem não comeu
Manga não, manga é um perigo
Quem provou quase morreu
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí
Mudo meu ponto de vista
Mudando de profissão
Pois a moda agora é artista
Ser júri em televisão
Tomar banho só de cuia
Comer jaca todo mês
Aleluia, aleluia vou morrer na BR-3
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí (Everybody)
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí (Meu Deus, meu Deus)
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí (Take me back to Piauí)
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí
Hey hey, dee dee, take me back to Piauí
#Paulo Pestana
#Ainda estou aqui
#Fernanda Torres
#Juca Chaves
24/03/2025
(377)
mmsmarcos1953@hotmail.com

A História é amarela 5 (Elis Regina)
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