“A menina vive”
Eu amo essa imagem, ainda viro a cabeça pra direita qdo tiro foto, amava meu cabelo cacheado que depois ficou liso (odeio) e vivo nas lojas de produto afro pra ter cabelo pra cima que voa! Esses dias eu ri e pensei “bebê monstro tem muitos dedos”, eu não sei de quem é essa mão segurando a minha.
Tenho essa foto na minha sala, pra mim a pureza da menina quebra a negatividade de quem entra/entrou com má intenção. É, eu sou egoica, meu amuleto sou eu.
Quem teve que se virar desde os 5 anos de idade não tem medo de humanos e de seus intentos ruins. É, tem gente que consegue fazer maldade a uma menina de 5 anos. Durante muito tempo eu me enfeiava de propósito – se ninguém me achasse bonita, ninguém me tocaria. Hoje essa menina velha tem 47 e por tantas coisas me tornei reativa em proporções absurdas. Eu tenho uma cara de pessoa boa, mas se me fazem qualquer coisa eu vou atrás e me vingo, me vingo dez vezes pior.
Talvez seja essa eu protegendo essa da foto, ela só tinha 4 ou 5 anos. Ao contrário do que pensam, criança não esquece. Entendedores e almas sensíveis entenderão. A cara boa, o cabelão, o vestido lindo e o salto é mero disfarce ruim pra quem tentar de novo fazer mal pra menininha. Ela cresceu, sabe falar, reagir, ir à polícia e somente me toca quem eu quero. Aliás tenho horror de contato físico, não gosto que me abracem, eu abraço e se o faço e pq amo e confio, foi vontade minha. Quando fui crescendo escutava “ela é terrível, só faz o que quer”. Algum ser pensante olhou nos meus olhos que exalavam ódio e vingança e se perguntou “quantas vezes ela fez o que não quis?”. Mas ninguém olha pra criança, escuta criança.
Acho que por isso eu fui ser professora, eu capto um olhar de criança e sei exatamente o que ocorre. Coisa de bruxa? Coisa de louca? Não. Coisa de quem teve a alma ferida, era apenas um bebê, lembro disso todos os dias, e aprendeu a ler um olhar pq nunca olharam pro meu. E não tô falando dessa eu com saia curta e batom vermelho.
Dentro de mim a menina se aninha no meu coração e está segura, ninguém ousa olhar diferente pra ela pq, hoje, quem cuida dela e de mim sou eu. E tudo que eu cuido ninguém fere. Talvez por isso mesmo sabendo me defender eu tenho ódio, ódiooooo qdo sou injustiçada e um FDP não abre a boca pra me defender, por isso me defendo mil vezes e em proporções descabíveis; se você me olha feio, eu acho completamente normal eu te empurrar do décimo andar.
Eu coloquei na minha cabeça “não vou virar freguesa de abusadores” e eles estão por todas as partes, levaram muito da minha inocência (acho que tudo), mas não me levaram de mim. Por isso eu me fotografo tanto? Exibicionismo? É muito mais que isso: é exibimento. É, não nego, tem muito disso. Mas às vezes o espelho não é suficiente pra eu acreditar que eu tô viva ou pelo menos ainda pareço respirar.
Quem vê batom vermelho não enxerga a autoestima que roubaram e eu vivo como uma justiceira correndo atrás dela todo dia, e de manhã a menina feia acorda, toma banho, se arruma e brinca de ficar linda, meu batom vermelho sempre foi mais protesto que vaidade. Sigo, ou pareço seguir. Está isso.
_Lumarialu Marialu_