Riquixá
Todo mundo sabe o que é um riquixá. Exagero. Mas pessoas da Índia e da China conhecem o veículo. Ainda que seja só uma parte
da população desses dois países imensos, é gente que não acaba mais.
Referência feita, preparatória da comparação, da analogia, cuido
que os indivíduos sem talento e pouco criativos na arte da escrita saem
à busca de celebrados autores.
E saem para quê?
Saem para transcrever, para evocar passagens luminosas que os grandes escribas deixam espalhadas por aí em benefício de todos e todas.
Os pouco inspirados, os sem talento, os sem vocação para as letras podemos nos abeberar nos livros das bibliotecas públicas e particulares ou, o que é mais comum nos últimos tempos, na rede internacional
de computadores, e repassar tudo.
Por isso, devo estar sempre no riquixá, acomodado na minha
falta de criatividade. Lassidão.
Quando faço citações pequenas, é caso de se ter a visão de um escritor-senzala (obrigado, Gilberto) a pedalar, arfante, a exótica bicicleta
com este blogueiro-casa grande (obrigado, Freire) encarapitado displicentemente no banco de trás, olhando a paisagem e fazendo
cara de paisagem.
Agora, se reapresento trechos inúmeros de determinada obra literária, verdadeiros bifões, imagem apropriada é a do escritor, mais arfante ainda, puxando essa espécie de veículo, modelo mais primitivo ainda, portanto só com a força das suas passadas, pés descalços na terra,
e também tendo no assento traseiro o sanguessuga aqui, com a mesma expressão facial, atento tão somente à beleza da floresta.
Em suma: eles escrevem, eu vou lá, diretamente na obra literária, garimpo aquilo que, no meu sentir, é genial, interessante, curioso
e trago para cá. Morcego hematófogo.
14 de fevereiro de 2014
(047)
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