Cristalina (IX)

É maçaranduba o pau de que é feito o cabo da enxada? Mesmo que de bambu, o desfecho não seria diferente. Sem largar da obsessão da cornitude, o homenzito cansara de ser plateia. De modo não mais passivo, desceu da gávea (relevem-me a figuração novamente neste blog) e, travestido de caçador sem espingarda, crispou-se na tocaia, atrás do tronco de árvore mais grosso e cúmplice. A seu turno, a caça percorria o trajeto de todos os dias, montado na bicicleta com a cestinha de livros repletos de poesia.

A pancada inaugural e contundente trincou o peito do ciclista, que não mais lograra se recompor, uma vez que, além de coxo de nascença (como firmar as pernas trêmulas?), o ar lhe fugia dos pulmões perfurados pela ação de ossos partidos e fora de conjuntura, verdadeiros punhais a formar desenho macabro de um  joguinho da minha infância.

http://milmaneiraspedagogia.blogspot.com.br/2015/06/jogo-de-varetas.html
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Por acaso espectadores privilegiados da emboscada, teríamos assistido aos golpes desferidos pelo Zé Lobó no tórax do impertinente admirador de mulher comprometida, os quais, pela virulência e estrago, chocaram os veteranos e calejados paramédicos da ambulância que transportara para Brasília a vítima, desde o início da viagem sem veio poético, quilômetros adiante sem veia nem nada, apenas um corpo destinado à necropsia.

 

19 de abril de 2015

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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