Cristalina (X)

“(…) recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima, consubstanciado,(…), na emboscada: quando o agente aborda o ofendido de maneira inesperada, gera um contexto próprio para a aplicação desta qualificadora, pois a defesa é dificultada ou até mesmo impossível. A surpresa é normalmente aquilo que é imprevisível. Formas disso são a traição…, a emboscada (ficar à espreita, aguardando  a passagem inocente da vítima). Mas não é qualquer surpresa, uma vez que todo ataque tem um toque de inesperado, até para que dê certo. Cuida-se, neste cenário, da surpresa autenticamente imprevisível, impossível de calcular, prognosticar, imaginar(…)”  – negritei –

Manual de Direito Penal (Guilherme de Souza Nucci)

Nosso injuriado personagem tinha exata noção de que, já naqueles primeiros anos da década de 1990, o povo não mais referendava a prática criminosa, e em alguns rincões costumeira, de lavar a honra com sangue, mormente quando, para se vingar, o indivíduo traído valia-se não de uma modalidade franca e aberta – um duelo, um enfrentamento direto, um cara a cara -, senão que de solerte tocaia para pôr fim à vida do rival.

Incumbia a ele mesmo, Zé Lobó, na sua fixação patológica, reparar o dano, expulsar definitivamente deste mundo o sujeito melífluo que, a poder de apaixonantes e apaixonados poemas, insinuara-se para a Maria com o fito de fazê-la largar do marido e viver nas nuvens.

Nem advogado nem tampouco rábula, quase nada o Zé entendia dos cânones do Direito Penal. Seu ofício, indicado nestes tópicos, consistia em extrair cristal bruto da mina, reparti-lo criteriosamente a batidas de martelinhos e ferramentas várias e prepará-lo para a lapidação. Transpostas essas fases, a pedra fica pronta para comercialização via atravessadores ou mediante negociações diretas com os lojistas especializados do município goiano.

Resolver avocar a si o papel institucional da Justiça cobra um preço: caracterizado o delito (qualificado) e comprovada a autoria, ou o Zé se colocava à disposição das autoridades pra mode pagar sua dívida com a sociedade, ou se lançava por aí, escapulindo pelo mato sem proteção alguma até chegar sorrateiro às cidades escolhidas para recuperação de forças, em pousos imperativamente temporários, de modo a evitar sua identificação e captura, com o que seria recambiado a Cristalina.

http://www.panoramio.com/photo/18220264
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23 de abril de 2015

(127)

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