Dr. Farani

Eu devia estar batendo nos treze anos, idade em que, como se diz de políticos, uns poucos não são capazes de nada, enquanto muitos são capazes de tudo (obrigado, Sebastião Nery).

Nessa época (eu revelo, meados dos anos 1960), o primeiro sinal de “amadurecimento” aparecia quando os jovens começavam a fumar, presunçosamente. Para se exibir e afetar rebeldia, os adolescentes de ordinário (sem trocadilho) fumavam, fumavam e em Brasília, sentados em
rodinhas na grama policiada pelos graminhas ladrões de bola de futebol, soltavam intermitentemente a fumaça azulada, bolinhas biscoito Globo que se iam desfigurando à medida que subiam aos céus. Havia aquele que não fumava, por isso tido inapelavelmente como excêntrico, até os pré-nerds se deliciavam com o tabaco. Já as meninas odiavam o cheiro de cigarro; hoje, as mulheres fumam demasiado, mais do que os homens, é cada tragada de dar medo.

Pletora de marcas: Minister, Continental, sem filtro – verdadeiro arranca peito – e com filtro, Holywood, idem, Carlton, mais caro, Charm, aromático e enjoativo, idealizado para mulheres, entre muitos outros. Os importados (como se quase todos não o fossem), principalmente os americanos, eram um luxo, uma raridade, Malboro, Camel, Lucky Strike, Pall Mall, hoje boa parte encontrável em qualquer camelô do centro velho de São Paulo.

Farani

Complementemos. Muitos meninos, que sequer imaginavam existência de câncer de pulmão, a doença familiar era a tuberculose (um dia, conto a ganglionar que meu pai pegou), juntavam essas embalagens. A minha coleção não fazia feio, tinha até latinhas italianas e francesas com cigarros coloridos, verdadeiras purpurinas, compradas nas viagens que meu tio Agostinho fazia ao exterior. Voava na condição de funcionário da Varig, onde ficou mais de quarenta anos, somando-se o tempo trabalhado em companhias adquiridas pela gaúcha nossa distinta embaixadora dos ares.

Aliás, o ex-ministro Joaquim Barbosa deixou o STF na pendência do julgamento do caso Aeros, do qual pedira vista. Grandes profissionais, pilotos, copilotos, comissários, aeromoças – esse nome era mais romântico -, pessoal de terra, quase todos na pindaíba há mais de década e meia. Apertem os cintos, que logo, logo chegaremos à Academia de Tênis.

 

12 de agosto de 2014

(081)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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