Fé amolada, faca cega (II)

Nesta época tão difícil, de tanta violência pelo Brasil (e pelo mundo), não é de bom-tom chamar alguém para ler assuntos relacionados com faca. Agora mesmo, quando rabisco letras medíocres, o noticiário nos dá conta de que um bandido, acobertado por outro meliante com granada no bolso, assaltava ônibus urbano na minha Cidade Maravilhosa, tendo sido baleado por um policial, com seu sangue tingindo a roupa de uma passageira do roubo interrompido, médica. Ironia do destino como diziam nossos antepassados.

Reingresso dolosamente na esfera do direito penal, atualizando impressões versadas na obra de ficcionista que entende do riscado (sem trocadilho).

Mais uma travessia (valeu, Fernando Brant), mais um trecho do nosso Rubem Fonseca, meu e de vocês todos e todas. O personagem que passeava por A grande arte, havemos nós de recordar, queria dormir e dormir. Despertado por virtude da pena encantadora do escritor, o protagonista partiu em busca de quem poderia ajudá-lo na vingança. A maldade que fizeram com ele, bem depois da maldade que fizeram com a quase namorada dele, mulher insinuante, tragicamente apresentada à língua do “p”, rospostopo  mar-par-carpardo-po  pepelapa  fapacapa, vai ser reparada, não tenham dúvida disso.

http://saomiguelemalta.blogspot.com.br/2014/11/
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“(…) ‘Um especialista busca as artérias’, Hermes passou o dedo de leve na minha carótida arrepiada. A carótida, ele explicou, era sempre fácil de atingir, um corte de três centímetros de profundidade fazia o indivíduo perder a consciência em alguns segundos. A veia favorita de Hermes era a subclávia. A perfuração tinha que ser de seis centímetros, era uma artéria que não devia ser procurada numa luta com um adversário difícil, pois, para atingi-la usava-se necessariamente uma empunhadura de maneabilidade reduzida. Mas quando alcançada o sangue irrompia num jato inestancável, forte como uma mangueira de bombeiro, a consciência era perdida em dois segundos e a morte sobrevinha no terceiro. (…) O alvo ideal era o coração. A perda de consciência era instantânea e, se o aço penetrasse os oito centímetros apropriados, a morte ocorreria em dois segundos. O sujeito que me havia ferido sabia empunhar a arma corretamente, mas não devia ter conhecimentos adequados de anatomia. O intestino não era um ponto vital. ‘Você podia ter morrido, ou não’. Entre os alvos secundários o estômago seria melhor, conquanto a penetração tivesse que ser de doze ou treze centímetros.  ‘Ele poderia ter cortado sua artéria braquial, aqui na parte de dentro do braço, na altura do cotovelo, ou a radial, no pulso. Você morreria em dois  minutos’.”

Sequencialmente, citarei o livro/filme em causa provavelmente pela última vez; do contrário, a gente não sairá daqui nunca mais.

 

03 de julho de 2015

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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