Histórias do teatro brasiliense (VI)

Há consenso de que os anos 80 não só terminaram, foram a década perdida. Para mim, significaram muito: trouxeram ao mundo meu filho, Tiago, o meu Velha, em 1981, e o levaram em 1983, uma dor enorme, infinita, permanente.

Igualmente, ninguém discute mais, virou um dogma, nós, do ocidente, não sabermos lidar com esse sentimento de perda. Verdade que temos experimentado melhoras, existem muitos sites (dou como exemplo o “vamosdiscutiroluto”) que abordam esse assunto sem nenhuma limitação ou constrangimento. Fala-se ali de tudo o que se relaciona com a morte e os mais decididos e corajosos se sentem à vontade para o evisceramento seguido de alívio ao concluir o relato, não raro minucioso e emocionado, acerca do passamento de entes da família ou de pessoas próximas ou amigas.

Este capítulo, eu o abandonara em julho p.p., retomando agora a tarefa porque o tópico precisará de continuidade até nossos dias, quando irá perecer fatal e logicamente porque tempo pretérito.

“Nos oitenta muito mais que montagem de autores de fora, se destacam as criações coletivas, realizadas por vários grupos. Com a experimentação inicial dos setenta, várias pessoas começam a configurar uma linguagem particular e vinculada com a identidade local e com um maior amadurecimento. O panorama teatral começa a se estabilizar e essa década aponta em seus trabalhos várias características da ‘brasilianidade’.

“Carroça e Katharsis iniciam a década de 1980 ganhando o Prêmio Mambembe, por dois anos consecutivos, respectivamente com os espetáculos, Capital da Esperança (1980) dirigido por Humberto Pedrancini e A raiz do pau encarnado (1981), dirigido por Chico Expedito. Esse prêmio era oferecido aos melhores espetáculos de cada região brasileira, subsidiando tours nacionais.”

Quem se dá ao trabalho de viajar em cima, não da Carroça acima, mas deste blog, sabe que toda essa minha contação encontra-se arrimada no livro História do Teatro Brasiliense, de Fernando Pinheiro Villar e Eliezer Faleiros de Carvalho, sem o qual nossas cênicas ficariam ainda mais carentes de memória (carência de recursos financeiros é outra história e quase o mesmo drama).

Mais uma vez, vou pegando os condimentos no pote de picles para citação das passagens em que a dupla de autores do belo registro rememora os artistas e as artistas cujo “nascimento” ocorrera na década tida por malfadada.

“Além do Mambembão um outro projeto que merece destaque (…) no início da década de 1980 foi o Projeto Platéia. Esse projeto levava apresentaçõpes e oficinas para gupos teatrais iniciantes fortalecendo a formação desses grupos, que eram sempre ligados à escolas e associações comunitárias. Um grupo de bastante destaque surgido desse projeto foi o Grupo Retalhos no qual personagens importantes como Chico Simões e José Regino iniciaram sua trajetória teatral. Outro grupo formado também por esse projeto foi o grupo Trapo (1982) que deu origem à Cia. Bagagem de Bonecos dirigida por Airton Maciano e Marco Augusto. O Bagagem atua desde o ano de 1984 com sede no Gama, com vários espetáculos em seu repertório, além de confeccionar bonecos e adereços.”

Tem mais gente que nessa época estreou no pedaço (essa é nova), cujos nomes e trajetória inicial serão referenciados em breve.

Foto retirada do Facebook de Dimer Monteiro
Foto retirada do Facebook de Dimer Monteiro

O revigoramento do tema em causa, depois de quatro meses, serve também como pretexto para minha homenagem ao Dimer Monteiro – melhor, somente Dimer -, que com aquele típico olhar terno fazia questão de me abraçar em todas as manhãs nas quais eu adentrava o Mapati, onde ele passou parte dos últimos meses de sua existência com pequena e solidária turma de pilates, talvez a derradeira cartada de sua longuíssima e sofrida luta pela vida e contra a morte.

 

03 de novembro de 2016

(217)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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