Injeção de ânimo (II)

Numa cínica homenagem aos vinte anos de Pulp Fiction, a agulha operada suave mas decididamente (“Atenção, concentração, ritmo, vai começar a brincadeira…”) se imiscui no local que não era nenhuma Brastemp, nenhum Hulk, sem grandes áreas para dispersão e pouco estrago. Apesar da tarimba da moça, delicada e cautelosa no mister, eu principiava a sentir que um torno importado do ABC apertava aquela região onde um maribondo se antecipara, apresentando-se como mestre de cerimônia.

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Chiei, reclamei, vituperei… até a arma mortal ser retirada, ainda com um pouquito de remédio.

Em nome da moral e dos bons costumes, subi honradamente a bermuda, retomei o civilizado papo com a super balconista e logo percebi que a vertigem tomava conta de mim sem pedir licença alguma. Meu pânico aumentou quando vi que meu único apoio era aquele pequeno banquinho de ferro.

Aí, a fada se materializou. Pediu que eu deitasse no chão. O Zé Cambaleante estranhou o convite para o piso frio – mas a aceitação foi rápida porque eliminava a hipótese de queda em consequência do desmaio iminente, dali não passa, como se diz por aí.

Quando minha sofrida coluna iniciava a fase de adaptação à baixa temperatura, minha protetora (cuidadora é coisa de velho), talvez vislumbrando quadro de choque anafilático, sentou-se também no chão, encostou-se à parede, acomodou minha cabeça no colo dela e passou a me abanar e a me tranquilizar. Fidedignamente, devo dizer que faltou só o paninho embebido na água milagrosa dos filmes de faroeste que, banhando delicadamente a testa do mocinho, ajudava a curá-lo do buraco (sempre no ombro) feito pelo tiro de espingarda desferido pelo vilão da história.

Essa função providencial levou uns dois ou três minutos. Já não mais suando frio, refeito da frescura, levantei-me, comprei na mesma farmácia os outros dois remédios e, após muita insistência da minha parte, consegui que a discreta salvadora aceitasse uma pequena e merecidíssima gratificação financeira.

Hora de ir para o Mapati, filar o que eventualmente sobrou do almoço das crianças da colônia de férias, todas elas boas de garfo.

 

13 de julho de 2014

(075)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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