Memórias/Memorialistas (VII)
E o nosso inesquecível chanceler não findara a mensagem. A destinatária Conceição de Freitas, a mais brasiliense das paraenses, a contadora de causos de Brasília ainda leria sinceras palavras, enlevada pelo som incidental de um tambor (obrigado, Günter Grass) que percutia no recesso do parlamento.
“(…) Muitas dessas formas, não pròpriamente arbitrárias, mas livres, de Oscar Niemeyer, fracassaram nos seus objetivos. Sua identificação com as finalidades específicas do serviço público nem sempre se deu, e estou certo de que o Palácio do Congresso é exemplo incontestável desta inadequação.

“Não quero dizer, porém, que, em si mesma, na sua totalidade, no seu aparato integral, a nova perspectiva urbana de Brasília não seja uma revelação e um triunfo. A beleza dessas formas estranhas mas, entretanto, naturais – e quando digo estranhas quero dizer inesperadas, pouco habituais – nem por isso deixam de ser singelas na sua simplicidade. É a conquista de uma forma que não é barroca e não é clássica; de uma forma arquitetônica que, sem ser clássica nem barroca é, entretanto, necessária e, ao mesmo tempo, grandiosa.”
Termina assim a oralização.
Abandonemos o parlamentar e convoquemos (novamente) o escritor, no “Alma do Tempo”, que, não fosse suficiente ter lembrado nesse livro a declaração de amor ao Planalto Central passada à jornalista candanga desde sempre, ainda cuidou de aduzir comentários sobre aspetos outros da cidade que nascia. E iniciou, digamos, a segunda parte aludindo à claridade, que não provoca fotofobia, antes nos paralisa, nos deslumbra. Conceição não vá embora, sirva-se.
“(…) Outra coisa que deve ser salientada em Brasília é a beleza dos horizontes, da luz, do céu. Nesta época do ano, com a finura e a leveza do ar, as côres matinais e vespertinas são maravilhosas, por todo o infinito círculo visual. Ainda hoje acordei antes das 6 horas e fui à janela. A grande avenida em que moro estava imersa na fresca penumbra da antemanhã, e os raros caminhões transitavam de faróis acesos. Mas já o céu estava claro, todo dourado, impregnado de uma transparência milagrosa, como se a voz de Deus se fôsse fazer ouvir, dos seus arcanos. Só a música poderia dar idéia dêsse cenário…”
Uns elogiam Brasília, outros jogam pedras. Existem aqueles que fazem as duas coisas. Continuemos na prazerosa companhia mineira do homem do Brasil.
11 de janeiro de 2014
(037)
mmsmarcos1953@hotmail.com
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