Obsessões musicais (XXVIII)

Em rigor, não amamos pessoas; amamos ideias de pessoas e não toleramos que a realidade não esteja ao nível dos nossos delírios.
– João Pereira Coutinho

Passamento.

Que palavra esquisita e tão dura. A situação agônica do padecente, quando se finda, convola-se no embarque, dá-se então o passamento. Meu pai, mineiro, dizia: “Sabe o fulano (ou a fulana)? Embarcou”. Na primeira vez que ouvi isso, dada minha parcial origem das Gerais, me surgira a imagem de uma gare com seus trens, chegadas e partidas.
Porém não era bem isso, a estação ferroviária em verdade era um aeroporto virtual, sem radar, sem sala de controladores(as) de voo, sem bares e restaurantes caros pra caramba (há um candidato presidencial que recuperou a expressão). Esse local, em pobre metáfora, é destinado a nos enviar para as alturas, para furar as nuvens, e lá subir, subir, subir até chegar à porta do céu – nessas jornadas a gente não volta à terra firme para experimentar daqui certo alívio pelas turbulências que ficaram na rota dos jatos.
Dias atrás, passeando por São Paulo (dizem os cariocas que isso é possível), recebi a triste notícia de que seu Manoel Antônio Neto houvera embarcado. Grande praça, o ex-sogro de meu irmão caçula partira com seus 80 e pouco de idade e com quem convivi nessas últimas três décadas em situações não raro agradáveis, papos sempre estimulantes sem embargo de algumas diferenças que se antepunham entre nós dois. Nessa singradura, meu amigo Manoel, faça mais uma de suas gentilezas inúmeras: dê um abraço por mim no meu pai, na minha mãe e no meu filho, que nos deixou ainda um menininho de 2 anos e seis meses.
Fora de Brasília, como dito acima, eu não sabia o que dizer à viúva e aos dois filhos – nessas circunstâncias, ensina a sabedoria popular, deve-se ser moderado nas condolências. Até que ouvi minha neta de 16 anos tocando ao piano, séria e compenetrada, uma música que sempre me perturbou, Fly me to the moon.

Filmei-a durante o recital e de conseguinte encaminhei a matéria a uns poucos e restritos grupos de WhatsApp, tendo o vídeo provocado emoções.
Pensei então em lançá-lo aqui. No entanto, conhecendo-a, afastei logo o alvitre pois minha neta é reservada, um pouco sistemática e não gosta de se expor por aí. Resultou disso minha deliberação de transportar a música (a letra fica um pouco aquém; vide o final da postagem) para este pouco lido blog, com outro artista, digamos, mais experiente
Senhoras e senhores, com vocês um jovem cantor hoje com 96 anos, portanto de futuro ainda muito promissor, tal de Tony Bennett, numa célebre performance em show no formato unplugged, que nos levará para a lua.

Não fosse suficiente tanta arte e sentimento, renovemos nossa curtição ouvindo a mesma música, ele bem mais velho, já com evidentes marcas de longa existência, tendo seu número artístico apresentado pela Lady Gaga, com quem dividiu músicas na noite.

https://www.youtube.com/watch?v=z5lCmoYBKqA

Me Leve Para a Lua

Me leve para a Lua
Me deixe brincar entre as estrelas
Me deixe ver como é a primavera
Em Júpiter e Marte

Em outras palavras
Segure minha mão
Em outras palavras
Amor, me beije

Encha meu coração com música
E me deixe cantar para sempre
Você é tudo que desejo
Tudo que eu venero e adoro

Em outras palavras
Por favor, seja sincera
Em outras palavras
Eu te amo

Encha meu coração com música
Me deixe cantar para sempre
Você é tudo que desejo
Tudo que eu venero e adoro

Em outras palavras
Por favor, seja sincera
Em outras palavras
Em outras palavras
Eu te amo

#João Pereira Coutinho
#Tony Bennett
#Lady Gaga
#letras.mus.br/

(355)
mmsmarcos1953@hotmail.com
25/10/2022

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