Quem cuidará de nossos pais? (VI)

Refiro-me à postagem antecedente e, com as anotações abaixo, dou por findo o tema.

Um dos psiquiatras que atendera a professora Neusi – sete num mesmo mês – só podia estar brincando, e brincadeira sem graça, impertinente: “Como vou saber que você também não tem Alzheimer, como sua mãe?” Que profissional admirável!

A procura frenética e desesperada por tantos médicos e num prazo tão curto se deveu a que Neusi atingira um ponto de não mais ter “paciência para esperar o antidepressivo agir.” Passemos o bastão a quem alimentou o livro da Marleth com desabafo autêntico e comovente.

“(…) O que mais maltrata o cuidador é ouvir alguma pessoa próxima dizer ‘tenha paciência.’ Essas palavras machucam. Quem fala isso poderia ajudar, mas prefere cobrar paciência do cuidador, reforçar a idéia que é uma espécie de destino(…). Situação parecida acontece nos feirados, quando a família vai viajar e antes avisa: ‘Se precisar de mim, ligue.’ Estão à disposição, mas estão longe(…). Cansa alguém precisar de você o tempo todo.”

Quem lesse somente esse trecho haveria de concluir que a filha reclamava de ocupar o papel de cuidadora. Não é bem isso. Na verdade, configura-se registro de alguém que jamais poderia viajar, por exemplo, sem ter de pedir ajuda a parentes ou contar com a boa vontade de terceiros. Prossigamos, até para certificação de que a demência em foco reconduz muita vez o(a) idoso(a) à fase da infância, implacavelmente, patologicamente.

Já estamos terminando. 

“(…) Se o doente for uma pessoa calma, quieta, pode ser que um cuidador sozinho resolva quase tudo. Mas mamãe é agitada; ela não pára, anda de um lado para o outro, demanda atenção. Uma vez dei a ela uma boneca que guardei de minha infância. Serviu para entretê-la porque ela fez da boneca um bebê e passava o dia cuidando dela. Passado algum tempo ela decidiu que precisava cuidar do ‘bebê’ também durante a noite. Foram três noites sem dormir porque mamãe não pregava os olhos, andava e falava com a boneca o tempo todo.”

Desfecho as confissões da professora Neusi interpondo minha reverência, minha singela homenagem ao grande psiquiatra alemão Aloysius Alzheimer, que no início do Século XX, há mais de cem anos portanto, recursos materiais parcos, identificou a doença a qual por isso mesmo recebeu seu nome.

http://www.findagrave.com/cgi-bin/fg.cgi?page=pv&GRid=10688&PIpi=130738
http://www.findagrave.com/cgi-bin/fg.cgi?page=pv&GRid=10688&PIpi=130738

“(…) Nesse tempo (dois anos após a internação da mãe) quantas vezes já briguei com Deus! Fiz as pazes, briguei de novo. Me pergunto mil vezes por que essa doença apareceu no momento em que minha mãe estava tão feliz, tendo condições de viajar e passear como ela tanto gostava (…). Ela recorda o nome dos outros filhos. Quanto a mim, se alguém pergunta a ela quem é a Neusi, ela responde: ‘É uma moça que anda por aí.’”

 

13 dezembro de 2014

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mmsmarcos1953@hotmail.com 

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