Sociologuês

A depressão pode ser curada com medicamentos e suporte psíquico, além de apoio familiar.

E a melancolia? Não tem remédio, integra nossa personalidade. Eu, por exemplo, carrego essa mochila desde que me entendo por gente.

Numa outra indagação, abrangendo-se período de mais de quarenta anos atrás: que família seria a minha, com meus avós, meus pais e meus irmãos e irmãs? Não é tão problemático classificar. Revele-se que era uma confraria pequeno-burguesa, de certo modo inculta, classe média (carioca), sem muitas perspectivas, povoada de barnabés, frustrações profissionais por todos os lados, fracassos amorosos, e por aí vai.

Ano de 1972, uma década de residência em Brasília com algumas interrupções em temporadas no Rio de Janeiro, passei a ser um estudante de Direito da UnB perdido naquelas imensidões arquitetônicas do campus, fértil e desafiador, forjado por cabeças iluminadas, de que destacaria Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, mas espaço sob permanente vigilância da turma braba – os milicos e (o que é pior) os entusiastas e colaboradores da chamada Revolução, sem que eu tivesse plena noção de tudo aquilo. Impensável discordar da turma do poder. A ordem do dia, lida nas casernas em nome do progresso do Brasil e repercutida pelas áreas de comunicação social(?) das redes de imprensa, era acatada como se emitisse legítimos ditames constitucionais.

http://sinus.org.br/2015/universidade-de-brasilia/#!prettyPhoto
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Na esfera do trabalho, apresentava-me como um burocrinha assustadiço e subjugado no bojo da Caixa-Preta Bacen, então braço civil da ditadura, na busca do resgate e do alcance dos sucessos de toda espécie pela via de uma carreira “promissora” e festejada pelos chegados.

Quanta ignorância, aliada a ingenuidade e desorientação.

Praticamente ainda um menino nessa época, dezenove anos recém completados, quantos percalços vivi no barco em que eu navegava com jovens em situações análogas à minha, alienados absolutamente, verdadeiros caipiras lançados nas repartições oficiais permeadas pela cultura do Banco do Brasil.

Vogavam nesses ambientes cagaço da luta armada, obediência e vassalagem aos chefes (conservadores e também medrosos), pobreza intelectual, bom mocismo. Havia que galgar postos funcionais, obter reconhecimento social e, talvez a meta mais importante, conseguir renda (salário) para se sustentar e de ordinário carregar a família, decentemente. Dedicação à carreira, de par com alguma sorte, ensejava abandonar as quitinetes onde morava boa parte deles e rumar na direção do pouco habitado Lago Sul (os mais velhos) e do menos habitado ainda Lago Norte (a “classe C”, formada pelos escriturários emergentes).

Socialmente, missa aos domingos, convivência harmoniosa com a mulher, com quem os maridos cinquentões e sessentões passeavam amorosamente pela cidade (amantes sempre engatilhadas e escondidas) numa demonstração de paz e felicidade conjugal. Na outra vertente, pululava o núcleo dito transgressor – subversivos, artistas de todos os segmentos, maconheiros, viadinhos, lésbicas, que eram malvadamente jogados às feras nas arenas moralizadoras, bem assim excluídos do convívio “decente” e demarcado por quem mandava e oprimia, tudo para que os bons costumes não fossem abalados.

Nesse caldo, eu me criei, estudando (aos trambolhões), trabalhando e em 1974 me casei, certo que isso já é outra história.

 

21 de maio de 2015

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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