Tiradentes

Não tenho muita paciência com esse hábito tão comum de narrar viagem, principalmente quando é internacional, e mais principalmente ainda quando a jornada é pelo Circuito Elizabeth Arden. O Marco Polo quer aparecer bem na fita (outra expressão do período AC), quer passar para todo mundo que é lindo, poderoso, rico e feliz. Surgiu até um termo para definir isso nas redes sociais, de que fui desalojado, relembro, pela minha neta Aline (quase 18 anos de idade), que criou uma página (perfil, sei lá) para mim e a qual eu abri com um tijolaço, vários parágrafos. “Vô, tem que ser mensagem curta!”

Dada a advertência, rigorosíssima, não resisti, pulei fora e não devo retornar tão cedo – pesquisas apontam que apenas os solitários e idosos (o que só serei daqui a milhões de anos) irão se utilizar desse meio de comunicação, sabendo nós que os adolescentes dele apearam (sem trocadilho)
há algum tempo e manejam outro sistema não oneroso de troca de mensagens.

A propósito, que cena genial a do genial A grande beleza, genial “continuação” do genial Felini, aquela do protagonista (puta ator, nos dá ideia de que a rigor estamos vendo um documentário da vida dele) ainda na cama com a linda e bobinha moça, que, nua e empolgada, esquecida do sexo por fazer (ou já feito), corre até outro cômodo da mansão no intuito de buscar o notebook  com as sensuais fotos dela para os dois parceiros se deleitarem…

Reforçou-nos o nosso Cavalheiro e Cavaleiro das Noites de Roma que, quando um corpo humano nu está ao lado de outro corpo humano nu, o melhor antes do intercurso sexual é a apalpadela, o melhor sentido portanto é o tátil, melhor mesmo do que o da visão, que mané voyeurismo que nada. Já deu (com ou sem trocadilho). Fui. “Com 65 anos, não preciso mais aturar certas coisas”, pensou alto saindo à francesa o nosso cético e encantador personagem italiano, escritor do único, celebérrimo livro publicado havia quarenta anos e que lhe permitira viver à tripa forra por um bom tempo.

Digressiono mais uma vez, sou um recalcitrante (como diziam as placas nos
ônibus municipais do Rio de Janeiro, Art. tal do Decreto tal: “… o recalcitrante será retirado do veículo…”).

Mas vamos lá, vamos falar um pouquinho de Tiradentes, estamos chegando…

15 de abril de 2014

(059)

mmsmarcos1953@hotmail.com