Tiradentes (V)

Pode parecer estranho falar de Ibicuí, de Mangaratiba num tópico sobre Tiradentes, dando uma ideia de apropriação indevida, de esquecimento do lugar. Não é bem assim, até porque aquelas ladeiras da cidade histórica são inquebrantáveis.

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De todo cabível a associação de Minas Gerais com o mar. Vocês conhecem porventura alguma praia (e não falo de praia de rio, tão comum em Tocantins) deste Brasil que não tenha mineiros, muitos mineiros, os grandes amantes dos oceanos, numa visão poética, os legítimos inventores do isoporzinho, num enfoque mais pragmático?

Aliás, sofrem demasiado os comerciantes de Guarapari para arrancar um dinheirinho dos turistas meus ancestrais, que na viagem, além de todos os víveres imagináveis, levam ancinho, destrinchador de aves, velas (as de barco; as de promessa – religiosos que são; as de carros com motores antigos), baldinhos, protetor solar, galochas, espremedor de tubo de pasta de dentes, baralhos (de papelão), jogo de damas (xadrez, não pois, quando é jogado, deve-se ficar em silêncio, do que é capaz o mineirinho da anedota, jamais a mineirada, sô).

Prestada a homenagem, narremos os dois outros episódios que se entremostraram naquele leito onde o hóspede vivia momentos de alvoroço, de aflição, de dificuldades para dormir. O primeiro deles.

Lembro meu pai e minha mãe, saindo os dois de casa, quase todas as noites. “Onde vocês vão?”, perguntava, sagaz e cúmplice, a primogênita, pré adolescente, que, assessorada por mim, o segundo filho, cuidava dos outros quatro integrantes da prole, dois irmãos e duas irmãs. “Na casa do menino do pé queimado”, dizia meu pai, geralmente com voz soturna e amendrontadora. Curioso é que nessas oportunidades a pergunta era automaticamente repetida, ou porque tínhamos esperança de ele nos revelar o verdadeiro motivo de nós seis ficarmos sozinhos, ou porque já considerávamos o menino do pé queimado um legítimo integrante de nossa família. Anos depois, o anticlimax: era só um cineminha o motivo das fugidas do casal.

O outro episódio vem a seguir.

 

08 de maio de 2014

(063)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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