Aviso de agradecimento (II)

Devido a problemas no sistema hidráulico da loja, o almoço no Giraffas, costumeiramente rápido, arrastou-se por mais de hora.

Saciado com a comida honesta (que se espraia por todo o Brasil; parabéns ao criador da rede alimentícia iniciada no cerrado), entro no carro e poucos metros adiante o motor pifa. Olho no mostrador e constato que o ponteiro de combustível sinaliza ainda haver algum líquido no tanque, suficiente para rodar um bom trecho. Em ponto morto, no embalo da descida, consigo parar o carro numa vaga, muita sorte. Se sancionada a multa pecuniária aplicável para tais hipóteses de acordo com expresso dispositivo do Código Nacional de Trânsito, minha refeição tornar-se-ia programa caríssimo, digno de restaurante de luxo.

Indago sobre o posto mais próximo e sou informado de que havia um, distante cerca de um quilômetro. Começo minha caminhada na avenida principal da cidade (é politicamente incorreto chamar de cidade-satélite, embora não tenha orçamento próprio nem prefeito – tem administrador, mas isso é outra história, trágica às vezes).

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Avenida_principal_de_Parano%C3%A1.jpg
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Avenida_principal_de_Parano%C3%A1.jpg

Mesmo sem vocação para João do Rio (seria muita pretensão), incursiono pelo lado esquerdo e na subida vou reparando as coisas, principalmente o céu, onde nuvens negras (mais um ataque ao politicamente correto, e sou moreno mais para pardo) formavam pintura arrepiante. Nessa visada, sou atacado pela fúria celeste. Consigo me abrigar debaixo da marquise em frente a uma loja, de fachada simples como quase todas ali. Desse campo de observação, confirma-se mais uma faceta do sofrimento do povo. Se o chuvaréu desprezava caminhão e ônibus, que dirá respeitar ciclistas e pedestres.

 

03 de abril de 2014

(056)

mmsmarcos@hotmail.com

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