Bichos de estimação

Minha filha Mariana formou-se em Veterinária, há mais de década, tendo exercido de forma esporádica a profissão. Todo mundo (eu, a mãe, a irmã, a sobrinha) briga sistematicamente com ela por causa disso, desinteresse, falta de entusiasmo. E o fazemos sem visar aspecto financeiro, sabido não ser o filão – tanto pelo lado rural como pelas lojas do ramo espalhadas pelas cidades brasileiras – propício para se auferir belas remunerações.

Nunca fui muito chegado a animais. Em casa, nas minhas fases da infância e da adolescência, recordo que tivemos bichos duas vezes, em períodos curtíssimos, pois meu pai e minha mãe, conluiados, decretaram liminarmente o cancelamento da hospedagem dos dois cachorros (não contemporâneos) que se imiscuíram no lar de seis filhos e filhas; de um deles me lembro bem, um simpático(?) pequinês, cão raro hoje em dia, “expulso” de nossa casa juntamente com um exército, uma marinha e uma aeronáutica de pulgas vorazes.

Já casado, minhas filhas me brindaram com vários cachorros e, num dia um pouco triste para o pai e a mãe, Mariana se transferira para os Estados Unidos, onde acabou morando por mais de sete anos, pedindo para que no período de “exílio” cuidássemos da patota: uma fêmea de bulldog inglês, uma de dálmata e dois rottweiler, mãe e filhote (esse, do tamanho de um garrotão).

http://www.willtirando.com.br/2013/05/page/3/

Nem é preciso revelar quem ficou, solitariamente, incumbido da missão. Foi um tempo de boa convivência até que a gorducha inglesa (raça complicadíssima, saúde precária), diante de nosso esgotamento e impotência, encontrou cuidadores mais eficientes e com disponibilidade para a tarefa. Os outros três remanesceram conosco. Tempos depois, o saudoso Luiz Fernando (um dos melhores e mais experientes veterinários de Brasília, loja na Entrequadra 707 Norte, morto precocemente em acidente de carro) se vira obrigado a transportar os três cães, gravemente enfermos, com quinze anos de existência cada um, para a dimensão dos sonhos.

Deixem de considerar o que eu acima declarara em relação a minha afinidade com a bicharada: sofri, e sofri muito, com a viagem dos três. Não há esquecer o pertinente recado do cantor e compositor Eduardo Dusek (recentemente, ele apareceu com personagem meio doidão numa novela global aí). Contudo, em vez de trocar o cachorro por uma criança pobre, é possível abraçar os dois.

E é bem a propósito da firme – e parece que indestrutível – relação dos seres humanos com os animais domésticos que torno presente a seguinte mensagem de uma grande amiga, paulistana, moradora de São Paulo tal qual minha terceira neta, a caçula Alice.

“oi marcos, como se espera,  estou bastante triste. apesar de que essa minha amiguinha foi muito generosa comigo, ela foi se desligando aos poucos, como se fosse pra  eu me acostumar com a ausência. e foi mais generosa ainda por ter me poupado de fazer eutanásia, coisa que a veterinária dela tinha me alertado para a possível piora do quadro da doença. mas ela foi embora tão rápido, acho que sem grande  sofrimento, afinal ela sempre foi muito esperta, toda rapidinha com tudo, sempre alerta, minha eterna escoteira! me perdoe meu afastamento, mas era duro lidar no cotidiano com a degeneração daquele serzinho. ficou  difícil sair de casa, por medo dela se enroscar em algum canto de móvel e não conseguir sair, foi muito triste. mas minha tristeza é bem diferente daquela anterior, da mãe dela, a lua. alguns fatores mudaram, eu não estou no mesmo estado emocional de 7 anos atrás, ela viveu bastante (em novembro faria 17 anos), e fui me preparando pra despedida, conversava todos os dias, agradecendo as alegrias e o companheirismo dela todos esses anos. e mais, o que não fiz com a lua: fui ao hospital e fiz minha última despedida do meu pequeno amorzinho. uma música me veio à cabeça depois da morte, do ivan lins onde se canta: você foi saindo de mim de uma forma tão branda de quem partiu alegre você foi saindo de mim por todos os meu poros e ainda está saindo nas vezes em que choro… beijos c.”

http://www.bolsademulher.com/artesanato/1529/desenhos-de-cachorros-para-pintar
http://www.bolsademulher.com/artesanato/1529/desenhos-de-cachorros-para-pintar

 

18 de setembro de 2015

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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