Histórias do teatro brasiliense (V)

E prosseguimos na cabine de Fernando Pinheiro Villar e de Eliezer Faleiros de Carvalho, historiadores do teatro de Brasília. Nosso trem para na estação e o alto falante anuncia:

“O início da década de 1970 apresenta um pequeno movimento que vai se intensificando com o passar dos anos, ainda com uma forte marcação da censura. O teatro de Brasília na década de 1970 foi feito por uma geração de ‘não brasilienses-brasilienses’, pessoas que começam a se identificar como brasilienses e que trazem para a cidade e/ou mesmo têm em Brasília sua formação profissional.”

À medida que avançarmos pelos trilhos, iremos informar sobre os pontos culturais de nossa cidade e os passageiros e passageiras  embarcados em nosso comboio, podendo “transcrever a transcrição” de trechos de alguns depoimentos.

Eis a primeira fumaça artística, não por causa do escapamento do caminhão-palco do Mapati, senão pelo fato de a peça teatral O auto da Lapinha Mágica ter aberto a temporada no primeiro ano do período decendial em foco.

“A produção merece destaque por ser de um autor de Brasília, Luiz Gutemberg (que também dirigiu o trabalho) e por ter figurinos feitos por Athos Bulcão. O espetáculo acontecia em um caminhão e percorria o Distrito Federal, sendo uma forma de divulgação do teatro para todas as cidades satélites e entorno. Ainda nesse ano o então ICA torna-se IAA (Instituto de Artes e Arquitetura), no qual foram criados os Departamentos de Arquitetura, de Artes Visuais e Cinema e o de Música.”

Quanto às artes cênicas no segmento religioso, os autores falam da criação, por Irene Carvalho, do TEB – Teatro Espírita de Brasília, que, “apesar de estar ligado à doutrina espírita e de apresentar textos psicografados”, carimba sua participação no seduzir público eclético em suas apresentações, “conseguindo manter sua estrutura através da venda dos ingressos de suas peças.” Nessa mesma seara, e também no ano de 1973, os dois autores nos reportam surgimento do Grupo Via Sacra ao Vivo, de Planantina, “idealizado pelo padre Aleixo Szim e que tem a participação fundamental de Preto Rezende”, ambos irmanados na encenação da paixão de Cristo, nos primórdios com público de cem pessoas mais ou menos; hoje, milhares de espectadores.

Há por outra parte anotações a respeito da (já extinta) Fundação Cultural do DF, cujo conselho deliberativo,“apontado por João Antonio como ‘careta’ era composto por juízes e gente ligada à ditadura. João relata que esses conselheiros ‘não abriam espaço para gente em absoluto, e era meio tabu se apresentar na Martins Penna, que era só para grandes companhias e etc. etc.’”

E o livro de apontamentos e registros do teatro brasiliense segue apitando. Destaca

os espaços criados nessa década – Teatro da Escola Parque; Balão de ensaio; Sala Glauce Rocha no Pré-Universitário; Teatro Sesc Garagem; Teatro Galpão, a propósito do qual Hugo Rodas consigna que “era a sala mais interessante que tínhamos fora do Teatro Nacional, que ficou fechado durante muito tempo. Era onde se criava, se experimentava. Mas também enfrentamos milhões de histórias lá, porque era uma época de repressão, o que era um alimento muito forte. É um espaço que tem uma memória inacreditável.”

bem como os/as professores/as e os/as artistas, além dos/das citados/das acima, que pontificaram na Capital da Esperança em 1970/1979 – Chico Expedito, Graça Veloso, Nivaldo Ramos, Dácio Lima, Iara Pietricovsky, Dimer Monteiro, Renato Matos, Guilherme Reis, Keila Borges, Néio Lúcio, Tânia Botelho, Johanne Hald-Madsen, Ricardo Torres, Murilo Eckhardt, Bené Setenta, Gê Martú, Graziela Rodrigues, Ary Pára-Ráios, Helena Barcellos, B. de Paiva, Luiz Carlos Ripper, Luiz Mendonça, Lúcia Sander, Ana Vicentini, entre outros.

http://revistacult.uol.com.br/home/2010/09/150-espacos-culturais/
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29 de julho de 2016

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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