Lojinha da hora
“O Livro dos Recordes não elegeu ainda a menor loja do mundo, mas seus pesquisadores deveriam dar um pulo na Rua Buenos Aires, 194, no Centro, onde se esconde a Portinha dos Infláveis, um micro-estabelecimento comercial com incríveis 1 metro
de largura por 2 metros de comprimento. Essa loja é boa, porque entra um freguês e ela já fica lotada, diverte-se a dona
e única vendedora (…). ‘Meu marido é dono da loja ao lado
e estou sempre perto dele’, diz.“
Nesses termos é a abertura de uma reportagem publicada no JB
de 17.06.2010. E dela ouso diverjir. Para conhecer a menor loja
do mundo, os pesquisadores deviam mas é dar uma chegada
no Conjunto Nacional (por onde andaria a então diretora de marketing Claudia?). Localizada no térreo, um pouco depois de uma agência
da Caixa, vende relógios e peças e conserta também, provavelmente
o item mais expressivo do faturamento.
Dirão os ferrenhos e possessos oposionistas que toda loja de conserto
de relógios é pequena. Na fileira dos governistas, sou obrigado
a concordar. Acontece que nossa referenciada tem peculiaridades espaciais e amorosas que a distinguem das congêneres, inclusive a daí de cima. Começa que é de 1 metro de largura por 1 metro
de comprimento. Em seguida, e mais importante – e na contramão
das leis da Física -, ali não trabalha somente uma pessoa. Laboram contemporaneamente dois seres, piloto e copilota, posicionados lado
a lado e não um na frente e o outro atrás como naquelas duplas
nos aviões de guerra de antanho.
Marido e mulher (acho que a cunhada também dá esporádicos expedientes no pedaço acanhado; deixemos Nelson Rodrigues em paz), postam-se simultaneamente no birô (no ínicio desta mensagem,
o casamento se entremostrava em duas lojas, verdadeiro latifúndio).
Os dois mergulham nas diminutas e microscópicas engrenagens dos relógios e vão tocando sua atividade profissional num espacinho digno da capital japonesa. Quem vê aquela lojinha foto 3 x 4 é levado
a imaginar que, findo o expediente, um dos enamorados relojoeiros aperta botão redondo (quadrado não funcionaria) e colorido, aí o balcão se levanta e o pedalinho sincronizadamente se põe em movimento
pelas águas do shopping a conduzir de volta ao lar o casal eterno
que acena para o público. Ou, divisando melhor, não seria a limunise dos pombinhos um bate-bate do Nicolândia?
Não sei se embaraçado por meu comentário sobre o estabelecimento portátil, o marido relojoeiro afirmou-me que no andar de baixo havia uma loja menor ainda, tanto que, para conseguir trabalhar, o prestador de serviços tinha que dela sair e exercer a função do lado de fora. Tudo bem, nem fui lá, cantinho decerto sem nenhum charme e malícia.
Bateria trocada por ele, pagamento (R$ 20,00) recebido por ela… meu tijolaço de pulso está funcionando uma belezura.
18 de outubro de 2013
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