Memórias/Memorialistas (XIV)
Mais de quarenta e dois anos ininterruptos de Banco Central. Resolvi me aposentar, agora, em setembro. Apertarei de conseguinte a “tecla F8”, forma de bancarinos e bancarinas nos referirmos à confirmação, via processamento eletrônico, do pedido último de desligamento.
Ingressei na autarquia, em abril de 1972, simultaneamente aos dias iniciais do meu curso de Direito na UnB, departamento (tornou-se faculdade depois) situado ainda no Minhocão, final da Ala Norte, em frente à Comunicação, os coxinhas com seus terninhos de um lado e a descolada rapeize o meio é a mensagem do outro, um jardim a separar os antípodas.
Ao renovar desde logo meu abraço especial ao professor Sergio Porto, afirmo que a unebesta será abordada em outras postagens, eventualmente de mistura com lembranças dos horrores da repressão, borrachada comendo solta nos presos e nas presas, numa infeliz contradição entre termos.

Inscritos nas fileiras da inatividade, os velhinhos e as velhinhas passam a dispor, isso é verdadeiro, de todo o tempo do mundo, é só diversão e correr pro abraço (correr, não, falta fôlego – caminhar).
E isto também se apresenta verdadeiro: quem é que depois de largar de vez o batente é convocado todo dia e o dia inteiro, sistematicamente, para tarefas inúmeras mediante invocação do famosíssimo Jac, que não é a marca de carro chinês? Ora, o aposentado, cujas filhas, filhos, esposas e principalmente ex-esposas, parentada em geral, têm na ponta da língua as indefectíveis perguntas: “Já que você não está fazendo nada, você (a repetição é necessária para não haver dúvidas a respeito do real prestador dos serviços) poderia levar a roupa na lavanderia …, deixar o carro na revisão…, reconhecer firma no cartório…, buscar o resultado dos exames no laboratório…, me representar na reunião de condomínio… vir aqui para a minha casa e receber o homem da Net?”

Cumpridas as ordens múltiplas e indeclináveis (manda quem pode, obedece quem tem juízo), pretendo mais intensamente ainda me dedicar à leitura, inclusive revisitando grandes obras literárias (é luxo só). Por exemplo, as do Pedro Nava, o maior memorialista deste país.
24 de agosto de 2014
(085)
Dr. Farani (III)
Memórias/Memorialistas (XV)
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