Memórias/Memorialistas (XXXI)

Já havia me despedido do Pedro Nava. O reencontro estava previsto para dali a algumas semanas ou meses mesmo. Não foi possível, admito. Irresistível largar do pé do memorialista sem primeiramente vermos o Major no elenco de nossas estrelas e cujo nome completo não iria pesquisar. Pensando bem, resultou necessário. Concluí a pesquisa. Declinarei mais adiante como esse “milico” esperto saiu da pia batismal e cujas aventuras (e desventuras) abordadas pela pena do escritor aconteceram em 1907, 1908. Estamos, pois, na máquina do tempo que nos lança nos primórdios do século XX, vale novamente frisar.

“Construindo pontes sobre todos os rios. Esticando fios telegráficos (nenhum dos meus pouquíssimos leitores e leitoras sabe o que é Código Morse) em todas as montanhas e em todos os vales daquele norte. Ligando seus distritos, comarcas, municípios; trabalhando como ninguém; colhendo amostras de rochas, sonhando com Eldorados e Golcondas, com minas e roteiros, diamantes do Abaeté, mãos cheias de turmalinas, pepitas, minérios, sementes; com ferrovias, culturas, navios, frotas no São Francisco; com a recuperação das sesmarias do Halfeld. Providenciando, contando casos, conversando infatigável (de fatigar!); conhecido nas Câmaras, nas fazendas, nas farmácias, nos pousos; amigo dos juízes, dos coronéis, dos chefes políticos; estimado, querendo bem a toda gente, amando, dizem que povoando, fazendo suas quadrinhas, musa em férias, marido em férias, solto, solteiro em comissão, viúvo interino.”

O Major Joaquim José Nogueira Jaguaribe, além de avô do Nava, seria parente do Jaguar, um dos fundadores do Pasquim e atualmente um abstêmio juramentado? Pouco importaria. O que nos vai prender a atenção é uma outra curiosa faceta da personalidade do peça rara (ou não).

“O Major nessa época era uma esplêndida figura de macho. Peludo, magro, alto, desempenado, sempre de fraque escuro, bem calçado, meia cartola, escarolado, roupa branca esmaltada de goma, barba grisalha aberta ao meio, bigodarras de jaguar(do felino mesmo, não as do cartunista acima referido, que não as tinha nem as tem), mãos tratadas, olhos largos e sorridentes, muita papa – não admirava sua extração com as mulheres e a facilidade com que ele as cubultava (eis a sensualidade, melhor dizendo, a sexualidade da língua francesa)  e comia por quanto lugar onde passasse. Tinha principalmente a habilidade prodigiosa de inspirar confiança aos maridos e ficava logo íntimo, comensal, hóspede dos cornos. Tendo tudo ali, a mão, a tempo e a hora. Enquanto ele cantava em outras freguesias, minha avó envelhecendo de raiva e despeito, levava vida heróica em Juiz de Fora. Dotada de faro incomum para os negócios, econômica até à avareza, com o pouco que recebia do marido…”

Paremos nesse trecho, a cena é do Ricardão. A avó fica talvez para uma outra oportunidade.

http://luminaria.blogs.sapo.pt/tag/bce
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22 de outubro de 2015

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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