Não me abandonem

Há um ano, mais exatamente em 9 de novembro de 2012, enviei
a mensagem eletrônica (abaixo) para as pessoas cujos nomes estão nela dispostos; em realidade, a Gleice não foi destinatária, podendo agora, juntamente com os poucos que me leem, conhecer o registro, muito importante para mim.

De lá pra cá, muita coisa aconteceu no Mapati, predominantemente naquela toada.

Contarei em breve alguns episódios do Canadá e de Angola.

“A esta altura, Mariana está em São Paulo, Patricia já chegou
a Maceió e vocês três ainda se encontram em Luanda. Eu, por minha vez, trabalho intensamente aqui em casa desde quarta-feira, padecendo de atrozes dores
na coluna, cuja lombar tem sido atingida por sistemáticos choques que fazem o Sandy como que parecer coisa
de criança; e tome anti-inflamatório, que é amigo para curar e inimigo para provocar os chamados efeitos colaterais. Vim há pouco tempo do teatro, rendendo a Gleice na azáfama
do auxílio à montagem do espetáculo de dança. Aquelas coisas: primeiro, toca o sino quem vai conceber
a iluminação; em seguida, uma das dançarinas sobe a rampa acompanhada do rapaz que irá operar a luz. A outra viria logo, logo. Antes de essa equipe adentrar o Mapati, muitos pensamentos ocuparam minha mente. Sozinho naquele espaço grande – tantas vezes grandioso -, tomado por uma melancolia daquelas de arrasar multidões, firmei entendimento de que, diretamente ou não, o teatro para mim é imprescindível,
é “infechável”. Mesmo com alguns aspectos de visível decadência (cadeiras giratórias herdadas já com seus furos
e falta de parafusos; armários tronchos, cozinha industrial misturada com área de serviço algo caótica
e um pouco feia; últimas melhorias encobertas pela certa bagunça estética espalhada pelos três andares), sinto-me entranhado no Mapati irreversivelmente, inexoravelmente.
A recordação de tudo o que nesses mais de 21 anos acontecera de bom e de ruim ali é uma chicotada nas minhas costas suportadas pela claudicante coluna. A entrada
e a saída de tantos colaboradores e tantas colaboradoras nessas duas décadas atestam que o espaço não descansou, não teve trégua, precisou ser ele todo alagado do baixo ventre até os pés para que as atividades artísticas se interrompessem por um (curto) período. Não quero dizer que, tradicionalmente, tudo se deu de forma ininterrupta
e frenética. Mas, gente, embora me afastando desse exemplo do dilúvio caesbeniano, ouso afirmar que rolaram muitas águas límpidas, cristalinas, ora geladas, ora tépidas, ora ferventes. Peças, danças, performances, shows de comédia, espetáculos musicais, colônias de férias, aniversários, happy isso-happy aquilo, festas-família e outras nem tanto, atividades circenses, aulas de artes cênicas, projetos, exposição de fotografias, feira de livros… Meu Deus! Foi muita efeméride. E neste destampatório não vou referir
às centenas de trabalhos externos que realizamos em Brasília e nas inúmeras cidades brasileiras, no Canadá e presentemente em Angola. Daí minha tentativa de resgatar nossa história mediante envio daquelas mensagens eletrônicas (as quais serão retomadas tão logo se encerre essa jornada em África). Voltando às minhas amarguras,
é muito difícil para mim entrar naquela casa 5,
naquele nº 5, naquele antigo mas vivo centro cultural e não ver a Tereza dando aula e de igual sorte notar que o Jeff está fora no parque ou em algum médico e que a Dayse ainda não chegou do Minc. Esse trio, como eu e todo mundo,
é dado a achaques, a chiliques, a destemperanças, a bruscas alterações de humor. Mas é essa turma insistente que mantém a coisa de pé, que não deixa o Mapati fenecer,
que, erraticamente ou não, busca aprovação de projetos,
de apoios, de patrocínios, de clientes, de alunos. Patricia
e Mariana, de uma maneira ou de outra, também reingressarão em nosso teatro, podem crer. A mais nova abrindo, quem sabe, uma sucursal em Sampa; a mais velha, prestando a sempre necessária assistência jurídica e me aguentando para que eu continue a ter forças e saúde para poder participar dessa renovação que, tenho certeza, logo virá. Não me abandonem. Marcos”  

 

07 de novembro de 2013

(020)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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