Orlando

A jornalista Sonia Racy publicou ontem, em sua coluna no Estadão, quatro tópicos a respeito da terrível carnificina na boate americana, a seguir transcritos:

Orlando
Empresário de casas noturnas gays de SP, Facundo Guerra não acredita que o atentado de Orlando deva ser circunscrito à comunidade gay: ‘Foi um crime de lesa humanidade. Numa escala maior, a motivação foi, em primeiro lugar, genocida. E em segundo, homofóbica’, explica o dono de boates como Lyons Club e Yacht.

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Para Guerra, fazer a separação homofóbica apenas aumenta o preconceito: ‘Um acontecimento desses fere a todos, independentemente da orientação sexual das vítimas. O que temos que fazer é combater os fascistas, principalmente das redes sociais, que aproveitam essa situação para propagar o ódio contra os gays’, continuou.

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Indagado sobre o sistema de segurança de suas casas, o empresário diz que já existe uma revista rigorosa e que não vai mudar o esquema para a Olimpíada. ‘O medo é uma ferramenta de controle. Eu não vou ceder. Temos que nos unir contra isso’.

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Quem pesquisou encontrou. Ontem, era possível, comprar pela internet uma arma AR-15 – igual à do atirador de Orlando, por U$700.”

https://www.nexojornal.com.br/incoming/imagens/ataque_orlando_casa_branca.jpg/ALTERNATES/LANDSCAPE_720/ataque_orlando_casa_branca.jpg
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A sua vez, Dayse Hansa, produtora cultural do Teatro Mapati, achou por bem, no mesmo dia, terça-feira, tecer algumas considerações acerca do assunto e eu achei por bem nesta quarta-feira reproduzi-las: 

“Teço comentários –  embora a fala do Facundo venha em recorte, discordo dele em que fazer a separação homofóbica aumenta o preconceito. É a típica lógica de que negros são os primeiros racistas e mulheres são machistas para justificar tais práticas. Se ele fosse gay, o que aparentemente não é, além de gozar do privilégio de ser um bem sucedido empresário do ramo de entretenimento, teoricamente tem escudo contra uma série de preconceitos e problemas que a maioria dos(as) pobres mortais sofrem no Brasil. Mas ilustra para mim, inclusive, pensamento sobre o que por exemplo este processo político em que vivemos no Brasil fez aflorar sem querer: enxergarmos de forma cristalina as pessoas e seus pensamentos e nesse particular eu confirmei mais ainda que nem todo homossexual, mulher, negro e pobre é de esquerda ou progressista. Não que para mim essa seja a condição, mas porque de certo modo o processo todo me fez sair do meu próprio gueto e visualizar o quanto a humanidade vai mal. Vou mal, vamos mal, estamos mal.

“No caso especifico do horror, terror de Orlando há duas questões na sociedade estadunidense (que pouco conheço) postas para mim: a xenofobia e a homofobia.

“Penso que a fala (em recorte, frise-se novamente) do Facundo quer firmar que primeiro precisamos entender ter sido um crime de lesa humanidade para depois dizer que foi homofóbico. A meu ver, isso se assemelha a muitos pensamentos de lgbts que vejo como capitães do mato ao negar sua própria condição para continuarem fazendo parte do salão da casa grande; nesse caso, ‘serem aceitos’.

“Para mim foi um crime homofóbico de lesa humanidade diante da proporção e do impacto que isso gera. Ontem ouvi a jornalista Flávia Oliveira comentar a tragédia, o que me trouxe muitas reflexões. Os Estados Unidos discutem a limitação de armas, principalmente de grande porte, a cidadãos norteamericanos, enquanto no Rio de Janeiro os sons dos fuzis são sinfonias mortíferas conhecidas das comunidades.

“Sobre preconceito que, se perpetuado, transforma-se em fobia, ela diz algo a respeito de que precisamos parar para pensar e rever. Se numa família ou grupo de amigos nos valemos de ‘brincadeiras’ com frases injuriosas tais como: isso é coisa de viadinho, isso é coisa de mulherzinha, ser gay é pecado etc, renovam-se os primeiros contatos com a formulação de preconceitos, pois se aprende a ser também preconceituoso(a) e mais na frente isso pode puxar o gatilho, para si ou para os outros. 

“Comenta também a jornalista Flávia sobre o massacre horroroso em Orlando e que vitimou 49 seres humanos, enquanto no Brasil dados de 2015 comprovam, segundo a ABGLT, 383 vítimas de LGBTfobia, 7 vezes mais do que em Orlando, também seres humanos que foram assassinados(as) por sua sexualidade ou identidade de gênero. Portanto, crimes homofóbicos de lesa humanidade vivemos todos os anos no Brasil, infelizmente, e para mim ainda os vivemos por não assumimos sermos o que somos para tratar a ignorância que distancia e provoca, sim, a perpetuação das violências. Ou seja, quando o Brasil vai assumir que é homofóbico e que pratica crimes de ódio?

“Avanço: quando o Brasil vai assumir o extermínio da juventude negra e assumir ser racista?

“E quando assumirá ser machista e coonestador do feminicídio na medida em que considera as práticas de estupros supostamente como reações às mulheres que provocam homens?

“Quando assumirá que também por isso é um país corrupto?

“Por fim, citando o José Cardozo: ‘Quanto mais uma palavra se aproxima da realidade que se quer esconder, maior o incômodo que o seu uso traz’.

“Fiquem bem.

Dayse”

 

15 de junho de 2016

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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