Poemas de uma carioca desgarrada (XI)
Já reportei aqui, em algumas postagens.
Na minha infância/adolescência, os meninos eram obrigados a se portar como machos; ocasional sensibilidade “não típica” da masculinidade vigente, frescura. Havia que ser destemido, brigão, pronto para dar porrada. A valentia nos dias de hoje, tirando por óbvio a barbaridade de alguns estádios de futebol, passou a ser coisa bem diversa, sublime.
De outra parte, não cabe dúvida de que as mulheres são mais corajosas do que os homens, inclusive nos assuntos por assim dizer clínicos, medicinais.
Numa hipotética volta pelos corredores de um pronto socorro, deparo-me, distintamente, separadamente, com dois representantes de sexo oposto. Na primeira tomada, sala de pequenas cirurgias, a visão é a de uma mulher, semblante tranquilo e em cujo calcanhar não poucos pontos são alinhavados para fechar o talho. Mais à frente, a alguns metros de distância, divisamos um homem em desespero, acometido por indisposição nem tão grave assim, cambaleando até a maca do box que sabe a éter. O odor estupefaciente faz que nosso herói desmaie.
Por meu turno, começo a ficar inebriado. Aconselhável deixar o hospital antes de mais um vexame. Na saída, alguém me informa em compensação que nossa poeta tem a respeito novidades para contar.
FLOR-DE-ÉTER
Vou sair desse casulo,
dessa teia de aranha
Pegar esses fios e tecer,
Fazer um lindo vestido de bruxa
E voar numa vassoura mágica
Aterrissar num campo de flores-de-éter,
Num lugar sem lógica.
(Norma Martins – bHz – 1993)
24 de dezembro de 2014
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