Poemas de uma carioca desgarrada (XXI)

… E chora tanto de prazer e de agonia/
De algum dia, qualquer dia/
Entender de ser feliz/
De madrugada, essa mulher faz tanto estrago/
Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar

Ah, como essa louca se esquece/
Quantos homens enlouquece/
Nessa boca, nesse chão…
(Essa mulher – Elis Regina)

Não contando a turma que venera milícia ou grupo de extermínio para operar justiçamentos dos ditos marginais, estamos chocados com os acontecimentos em penitenciárias do Amazonas e de Roraima. O pós trauma, colidente com a pós verdade (prometo nunca mais usar a expressão), é real, é verdadeiro, é duro mesmo, joga-nos numa deprê que irá perdurar por muito tempo. Inútil será a tentativa de olvidar o assassinato de mais de uma centena de presidiários cometido pelos incontáveis “colegas” de celas e pátios do infortúnio.

Quando cursava Direito (se quiserem precisar a época, ainda era no minhocão), fiz Medicina Legal com o professor Hermes, um verdadeiro sacana conforme assinalei numa antiga postagem deste blog e a quem renovo minhas homenagens de aluno entusiasmado com suas performances em aula, a tornar leve o tema necropsia. Aprendi com o mestre da referida disciplina que, sob o prisma jurídico, resta estabelecida diferença fundamental entre degola e decapitação.

Salomé - Pierre Bonnaud - 1865

Salomé – Pierre Bonnaud – 1865

Na primeira modalidade, é a lâmina traçando risco profundo e mortal na garganta do infeliz. Já no outro procedimento, a cabeça, só a cabeça, é arrancada do corpo do João Batista e depositada na bandeja, ou é jogada no piso de terra, como estupefatos assistimos na televisão e com minúcias na internet.

O macabro intróito finda neste exato momento, quando em nossa vara criminal sentenciaremos inclusive a imperatriz de Alice no país das Maravilhas, que tinha o vezo de mandar cortar cabeças. Em nossos arraiais, à luz de velas e em ambiente de romantismo, somente se perde a cabeça poeticamente, sem passionalismos enquadráveis no código penal e sem rusgas com as feministas pelo exaspero da amante.

AMOR PAGÃO

Amo você
Acima de toda
E qualquer convenção.

Com atenção
Com coragem
Cheia de sensação.

Se é são ou não
Não sei
Nem quero saber
Só quero ser
Sentir isso e aquilo.

Se preciso, aniquilo
O que no caminho
Aparecer.

Se necessário for luto
Se o momento pedir
Interceder.

Hasteio bandeira
Arremesso o mastro
Farejo o rastro.

Esbravejo e castro
Escarneio e escracho
Aproximo ou afasto
Separo ou encaixo
Conservo o casto
De dia alvoreço
Corro, brinco, choro , labuto
Sorrio e até grito puto
De noite acendo o meu facho
Grito, procuro, consolo
E zelo por meu macho.
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___Norma Martins*
_ bHz _

13/01/2017
(226)
mmsmarcos1953@hotmail.com

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