Memórias/Memorialistas (XII)

“(…) A corrupção se instalou, trazida pela sua irmã siamesa,
a inflação. Maridos complacentes enviam do Rio as bonitas espôsas para defenderem os seus interêsses junto aos mandões. Contou-me um colega do Senado que uma dessas damas, que vieram em companhia de duas amigas, bateu-lhe às seis da manhã na porta do quarto do hotel, pretendidamente para conversar sôbre um interêsse do marido (industrial que ficara no Rio),
no Banco do Brasil.
“Funcionários do Senado e da Câmara contam-me, citando nomes, episódios mesquinhos, cavações reles, que dão, em pequeno, idéia do que pode ser, em grande, o ambiente nos meios
que dispõem realmente do poder do dinheiro público.
“A sabujice com que se incensa o Presidente, a espôsa e as duas meninas, suas filhas, dá náuseas. Compreende-se o espetáculo
da adulação imposta pelo terror; a adulação que defende a vida diante de um Nero, de um Stáline. Mas a sabujice sem mêdo,
sem tirania, é um mistério insondável da baixeza humana.
Dá engulhos e enche a alma livre, por mais compassiva que seja, de uma espécie de desprezo militante.
“São coisas pequenas, mesquinhas, bem o reconheço.
Mas exprimem um ambiente de progressivo afrouxamento
e, principalmente, indicam a existência de irregularidades muito mais graves, nos círculos superiores.”
18 de janeiro de 2014
(042)
mmsmarcos1953@hotmail.com
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