Cristalina (XII)
Discutia-se o porquê de o Alessandro, irmão mais velho do Fernando, ter feito aquilo em pleno correr dos modernos e mais feministas anos 2000. Em Cristalina, apegados ao episódio da tocaia, uns vislumbravam herança genética predadora. Outros, empedernidos machistas e cúmplices em última análise, abstraiam-se dos atos ínsitos à criminologia e não censuravam tanto assim o déjà vu.
Enfatize-se a variação de métodos pelo enfoque de resultados – o que de opção do pai, silencioso, a exigir trabalho e força física, mas eficiente; o utilizado por seu primogênito, barulhento, rápido, num zás, porém falho. Nessa singradura, a história não se repetiria nem como farsa, até pelo fato de que cada delito, refugindo de sua essência, superava filigranas dialéticas.
Num desvio psíquico, o filho do Zé emulou o pai e se convenceu da necessidade de apagar a traição recidiva por assim dizer, parecendo-lhe lógico e justo infligir castigo extremo – condenação à morte da menina que por via oblíqua trouxera a lume acontecimento que jazia na desmemória.
Ocorre que o assassinato não se consumou, por imperícia do atirador, a bala se alojara no crânio da namorada do tresloucado Alessandro; restou a configuração de tentativa para os fins de direito. A jovem, pasmem, reagira clinicamente à ofensividade e sobrevivera (ao que consta, até hoje está entre nós), não sequelada, embora tenha recebido como brinde aquele chip de chumbo, inoperável pelo absoluto risco cirúrgico.
Traumas de ordem psicológica desapareceram ou se atenuaram pois, dado por findo, o namoro se convolou em forte amizade entre os dois, a qual perdurou até o filho da Maria protagonizar outro caso rumoroso de passionalidade.
29 de abril de 2015
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