Histórias do teatro brasiliense

Neste 2016, o Mapati está fazendo vinte e cinco anos de existência. Várias produções deverão ser realizadas até dezembro para comemorar data tão importante, máxime se o aniversariante é um centro cultural e artístico, coisa difícil de acontecer, infelizmente.

Em contexto de festividades, não há deixar de margem a memória. E como se torna cada vez mais dificultoso cavoucar os desvãos de minha mente, roubarei trechos duma obra pra lá de simpática, Histórias do Teatro Brasiliense, organizada por Fernando Pinheiros Villar e Eliezer Faleiros de Carvalho, edição do Instituto de Artes da UnB, no longínquo 2004, quando o Mapati encontrava-se ainda em fase de adolescência com seus treze aninhos.

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E começarei a reportagem pelo começo, ou seja, pelo prefácio, de autoria da Carmem Moretzsohn, que sabe o que diz, ou melhor, o que escreve,  com tinturas de fino jornalismo.

“O teatro tem a qualidade e a dor do efêmero. Qualidade por ser experiência irrepetível e inadiável. Dor pelas mesmas razões. Um espetáculo teatral se esgota no tempo do pavio de uma vela. Quem teve a sorte de testemunhá-lo o trará para sempre na memória, mais até do que na mente, cravado na alma. Como expressar o que foi vivenciado naquele espaço quase mítico? Como recuperar, para a história, o que ficou naquele instante fugaz? Este tem sido o desafio de intelectuais e artistas ao longo dos séculos.

“Sistematizar informações pode representar o método mais eficiente de eternizar vivências. Mas não é possível catalogar testemunhos, distribuir experiências teatrais por gavetas de museus. Teatro é ato vivo, pulsante. Então, como fazer para recuperar uma história teatral, sem deixar de manter a provocação inerente ao teatro? Antes de tudo, dando voz aos próprios agentes culturais (…).

“Brasília tem a qualidade das jovens noivas, que podem sonhar e construir sua própria história, com o destino nas mãos. É cidade que nasce com sua gente, com o fazer dessa gente. Somos personagens e expectadores de um cotidiano, sem o peso de tradições seculares a embotarem nossos desejos. Mas como toda jovem, um tanto inconseqüentemente, nunca havíamos parado para analisar a nossa criação artística para sistematizar este aprendizado, para observar o que estávamos e se estávamos de fato construindo uma maneira singular de expressão (…)

“Pelas páginas destas Histórias do Teatro Brasiliense, o leitor vai encontrar um pouco dos sonhos dos muitos que fizeram e fazem das artes cênicas de Brasília seu meio de expressão, a forma de estar presente no mundo. Desfilam por elas lembranças que mostram um teatro dando boas vindas a ainda nem inaugurada Capital Federal, um teatro engajado na luta política pela igualdade social e pela liberdade. Passam experiências catárticas, de grandes performances visuais, falando nas entrelinhas a um Brasil ainda obscuro pelos véus negros da ditadura. Pelas linhas deste livro, caminham narrativas que recuperam espetáculos criados com a esperança de transformação da sociedade ou apenas como veículo de questionamento de gerações e gerações de atores. Espetáculos que transformaram mesmo sem alimentar tamanha pretensão, espetáculos que falam de expectativas, de vontades ou apenas de teatro. Uma história que nem bem começou e já é capaz de oferecer um pouco de identidade a esta terra feita sobre tantas identidades e sobre tantas referências (…).”

06 de junho de 2016

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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