Maria Brasileira da Penha

O bebê 2014 entrou em campo. Ressacão da virada, alguns poucos neobilionários no guichê da Caixa após as bolinhas despencarem caprichosamente do globo, notícias de algumas incertezas na macroeconomia, copa do mundo saindo de perto da cozinha e indo pra varanda, área política no preparo das eleições, meu Vascão não mais o Expresso da Vitória.

Não sei como a ONU intitulará o incipiente ano que jogou nas calendas o insipiente 2013. O de 1979, por exemplo, foi o “Ano Internacional das Crianças”, em cujo 12 de outubro, “Dia das Crianças”, nasceu Mariana, lembra este empedernido pai coruja. Desconheço qual campanha a igreja católica vai escolher relativamente à quaresma.

Reporto-me ao março vindouro sem destacar os festejos momescos e, evento mais importante, o meu aniversário. Queria desde logo me deter na data consagrada às mulheres, dia 8, daqui a sessenta dias praticamente.

Imagem: GFXTRA
Imagem: GFXTRA

 

Como ainda se mata mulher neste país grande e bobo (obrigado, Eduardo Almeida Reis). Mercê da psicopatia dos homens, como lamentavelmente demora a diminuir em nossas plagas o número de assassinatos de esposas, de noivas, de namoradas, de amantes, de companheiras. Porque o homicídio passional levado a efeito pelas mulheres traídas e inconformadas não é de certo modo digno de menção, pelos poucos casos registrados nos anais da polícia, na medida em que, comumente, a “vingança”, o “castigo”, a “pena” de iniciativa delas é seccionar, pelo manejo de faca, facão, peixeira ou punhal (o que torna o procedimento mais rápido e efetivo) aquilo que os homens mais prezamos, a estrovenga (obrigado, Pedro Nava).

Minha singela homenagem a elas é agora difundida para que não fique de mistura com as outras tantas (assim esperamos todos e todas) a ser prestadas na data alusiva à deferência ao sexo feminino. Com auxílio luxuoso (obrigado, Luiz Melodia) de um que outro diletante aboletado no Mapati, concedi a mim a ousadia de lançar-me à Aquarela Brasileira para reescrevê-la a pretexto de incrementar data tão importante e significativa.

MARIA BRASILEIRA DA PENHA

Vejam este melancólico cenário
É um despropósito primário
Que um fascista, gênio do mal
Desenhou para ser a serviçal
Não tem salto tipo passarela
É a tela do Brasil em forma de mazela
Passeando vi inúmeras amazonas
Conheci nossas ancestrais
Vontade de parar, desejo de ficar só
E no pensamento só cabe dó
Olhemos pelas mulheres um pouco mais
Pois só assim alcançaremos paz
Errava-se o be-a-bá na Terra sem elã
Cadê a lei? Luta sempre vã
E fiquei radiante de alegria
Quando cheguei com a Maria
Maria da alegria e muito axé
Das noites de magia e do cafuné
Depois de tramitar com a força de um Exú
Não escondeu o que tinha de mostrar
A festa da sanção – e do “fora, Brucutu”
A Penha vai ter o seu destaque
Na arte, na certeza, na feitura
O povo em protesto contra a guerra
O diploma engrandece a nossa terra
E aí Maria não se despe e nenhum cabra da peste
Vai chamá-la meretriz
Agora todas enfileiradas
As brancas e as mulatas
De sorriso quem diz
Penha, essas nossas bravas gatas
Certeiras, intimoratas
De uma força sutil
Viva as mulheres sem opressão vil
Graças à lei que enobrece o Brasil

Já pensaram se, da parte da família do grande Silas de Oliveira, inexistissem restrições eventualmente exigíveis e a Fernanda Abreu pudesse (e quisesse) incorporar essa nova letra (sem revisão final) para encaixe em alguma campanha relacionada com o “Dia Internacional da Mulher” e ou a Lei Maria da Penha?

 

02 de janeiro de 2014

(035)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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