Andrade Jr/Ator Sênior

A passagem do tempo é um componente vital e intrínseco à produção artística. É impossível eliminá-la. Toda tentativa de fazê-lo é ilusória e, muitas vezes, perigosa. Qualquer tentativa de ignorá-la é apenas desconhecimento.

– Jorge Coli –

Não fiz curso para captar leitores e leitoras, por isso que ainda escrevo somente para mim. Para não ser um sádico comigo mesmo, e automaticamente me convolar em masoquista, este blog deveria proscrever alinhamento de perdas e frustrações.

Nem sempre isso é possível. Ademais, não há sonegar fato relevante, para usar expressão do mercado de capitais. Se a Dayse Hansa me disse que na manhã desse sábado um grande artista embarcou, como deixar de repercutir a notícia? Se por acaso me omitisse, de nada adiantaria. O zap logo em seguida recebido começava a pipocar dizendo que

“Argemiro Gomes de Andrade Junior, de nome artístico ANDRADE JUNIOR (o destaque é do original, se bem que eu teria assinalado dessa maneira), nasceu em Fortaleza/Ceará em 1945 e mudou-se para Brasília em 1958. Foi morador da vila Amauri e depois um dos primeiros moradores da cidade satélite de Sobradinho. No teatro participou de mais de 30 espetáculos e no cinema foi onde ele mais se destacou, participando de quase 100 filmes de diretores(as) veteranos(as) e estreantes.”

A nota zapiana reportava, fidedignamente, que ele “era querido em Brasília e no Brasil pela sua facilidade de viver e conviver com a arte, sua maior adoração”, o que representa a mais pura verdade porquanto nós, do Teatro Mapati, gostávamos muito do Andrade Jr. e, quando ele ia ao nosso espaço cultural, preponderava a brincadeira e seriamente fofocávamos, debochando de todos – em poucas vezes até mesmo dos que não eram da classe artística -, destinando-lhes o opróbio.

O homem foi dar com os costados no Distrito Federal em 1959, e não em 1958, mas o que importa essa pequena diferença na vida de um legítimo pioneiro? No campo de sua profissão, integrava o rol daqueles que romariamente não suportam ensaios. Não decorava os textos a contento nem a poder dos eventuais esporros lançados por diretores e empoderadas diretoras do teatro e do cinema candangos à beira de um ataque de nervos. A histeria dos membros desse “estamento superior” ia perdendo força à medida que o Andrade Jr começava a se largar em cena, avultando o personagem, incrementando seu papel com espeque na intuição e na força de moldura sertaneja que o caracterizavam.  

 Ainda de acordo com a mensagem de zap acima, fica-se sabendo que foi casado com Talma Pereira de Andrade e deixou dois filhos, Randal e Hugo, e uma filha, Cássia, a quem o homem, sempre que nos encontrávamos, não cansava de fazer elogios típicos de pai babão, e cinco netos, ganhando de mim, que tenho quatro netas.

Morreu relativamente pobre. Razão pela qual, autoinvestido na função de empresário do Andrade Jr lá no firmamento, comunico que, ao tratar com os produtores celestiais, exigirei pagamento de cachê mais encorpado para cada um dos milhões de filmes e peças teatrais que meu ator certamente será chamado a fazer.  

#Jorge Coli
#Dayse Hansa
#Argemiro Gomes de Andrade Junior
#Vila Amauri

05/05/2019

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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