Memórias/Memorialistas (IX)

A questão desborda de ter ou não transparência. Óbvio que ao jurista cultíssimo e probo repugnava qualquer tolerância com malfeitos (respeitosamente, obrigado, Senhora Presidenta). O conterrâneo do meu pai defenderia, por exemplo, o exercício do munus público, no recesso de sala indevassável, mas sem asfixia, sem desapego aos legítimos interesses da comunidade. No plano mais geral, todos careceríamos de mirantes para “viver a vida”.

Leiam (Conceição, você também, eu pediria):

“(…) Se, por um lado, a vida íntima fica defendida apenas pelas cortinas e persianas, por outro a falta de terraços, sacadas e verdadeiras janelas, ajunta ao devassamento a sensação de falta de liberdade. Existimos às claras, como queriam os positivistas, mas só temos contacto direto com o mundo externo se saímos para a rua, quer dizer, para a poeira. Não há uma só sacada, uma só varanda em tôda a cidade, onde se coloque um pote de gerânio ou uma gaiola dourada de canário cantador. Niemeyer falou-me em necessidade de disciplina, para a vida em comum. Mas eu acho que disciplina não se confunde com prisão, ainda que seja clara. Falta em Brasília individualismo, personalidade, liberdade. Sou de opinião que se deve manter o conjunto urbanístico e o estilo arquitetônico tão bem integrados de Lúcio Costa e Niemeyer. Mas a homogeneidade dos conjuntos não impõe identidade dos aspectos particulares. Harmonia não é monotonia. Nada mais harmônico que uma velha cidade alemã ou uma nova cidade americana, de casas de madeira e jardins sem muros. Mas a personalidade, o gôsto, a necessidade de cada qual se exprime na liberdade das soluções. Minha concepção de ordem e disciplina é verdadeiramente democrática. É esta irredutível sensibilidade democrátrica que se sente opressa em Brasília.”

http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/09/22/primavera-comeca-hoje-com-mudancas-no-regime-de-chuvas-e-temperaturas.htm#fotoNav=8
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/09/22/primavera-comeca-hoje-com-mudancas-no-regime-de-chuvas-e-temperaturas.htm#fotoNav=8

Caberia parar por aqui dando um descanso aos desavisados e desavisadas que por acaso foram dar com os costados neste blog. De que modo, todavia, resistir ao, digamos, encanto dessa análise em boa parte feita, parece, há poucos dias? Diagnosticado com “Síndrome de Estocolmo”, preparo-me, tomo coragem, ou melhor, dou vazão a minha patologia consignando o que deveria ser o intróito do “Memórias/Memorialistas (X)”, mas que aparece como desfecho desta postagem que ainda reclama sequência:

“(…) Mas os vícios da atualidade brasileira, postos em evidência por Brasília (negritei), situam-se principalmente nos terrenos social e moral (…)”

 

13 de janeiro de 2014

(039)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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