Obsessões musicais (VII)

A coisa está braba pra todo mundo, nossos governantes cada vez mais estripadores. Um dos exemplos de penúria, a moda lançada em Porto Alegre e no Rio de Janeiro chegou sorrateira ao cerrado: fatiamento do salário dos servidores públicos do GDF, numa sequência do que ocorrera no Congresso Nacional em tempos nem tão remotos, o fatiamento da votação, que dava uma no cravo (impeachment) e outra na ferradura (preservação dos direitos políticos).

Por isso, atualiza-se  indagação do Luiz Fernando Veríssimo, “Poesia numa hora dessas?”, a nos remeter à postagem anterior. No mesmo passo, mas por óbvio sem nenhum brilho, eu me concederia formular “Música numa hora dessas?”.

O Manoel Carlos, novelista consagrado, tornou o Leblon bairro tão famoso quanto Copacabana. Ademais, o dramaturgo de Sampa e de alma carioca encharcou quase todas as suas novelas com a personagem Helena, nome que ele fez tão famoso quanto Maria. Entretanto e ao que eu me recorde, jamais apresentou nos capítulos de suas histórias televisivas uma música que me deixa transido desde 1968, sintomaticamente o ano que não terminou.

A par da melodia belíssima, enriquecida pela voz e interpretação do Taiguara, desenrola-se letra poesia pura, de autoria de ex-vizinho meu; salta-se um prédio e chega-se ao prédio do compositor, no centro do Rio, Rua República do Líbano, a daqueles fascinantes táxis pretos de gangster objeto de referências neste blog largado de mão por leitores e leitoras. Sabemos que você, Alberto Land, artista melancólico, foi assassinado em 2002, num dos bairros acima citados, a Princesinha do mar.

Maria Helena se elevou.

Patrick Gherdoussi/La Provence - Illustration sur la prostitution Patrick Gherdoussi/La Provence – Illustration sur la prostitution

Helena, Helena, Helena

Talvez um dia, por descuido ou fantasia
Helena, Helena, Helena…
Nos meus braços debruçou
Foi por encanto ou desencanto
Ou até mesmo por meu canto ou por meu pranto
Ou foi por sexo ou viu em mim o seu reflexo
Ou quem sabe uma aventura ou até mesmo uma procura
Pra encontrar um grande amor
Mas hoje eu sei que um dia, por faltar telefonema
Helena, Helena, Helena…
Nos meus braços pernoitou
Foi por acaso, por um caso
Ou até mesmo por costume, pra sentir o meu perfume
Dar amor por um programa, dar seu corpo num programa
Hoje vai e nem me chama
Um adeus é o que deixou

Talvez um dia, por esperança ou ser criança
Deixei Helena, Helena…
Com seus braços me guiar
Fui sem destino, tão menino
E hoje eu vejo o desatino, estou perdido numa estrada
Peço ajuda a quem passa, tanto amor pra dar de graça
Todo mundo acha graça
Desse fim que me levou

Maria Helena e seus homens de renome
Entre eles fez seu nome
E entre eles se elevou
Foi sem amor, foi sem pudor
Mas hoje entendo o jeito desses pra salvar seus interesses
Dar seu corpo custa nada e com ar de apaixonada
Em suas rodas elevadas
Seu destino assegurou

Talvez um dia, por desejo de poesia
Helena, Helena, Helena…
Talvez queira dar a mão
Talvez tão tarde, até em vão
Quem saiba eu tenha um rumo à vista ou quem sabe eu nem exista
Ofereço este meu canto a qualquer preço, a qualquer pranto
Não quero amor, não se discute
Eu procuro quem me escute

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27/08/2017
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mmsmarcos1953@hotmail.com

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