Poemas de um piauiense desgarrado (III)

Ao percorrer todo o sertão do Piauí, no seu típico caminho de Compostela, nosso poeta teve uma epifania e, passados tantos meses, ressurge neste blog.

Notem que, por quarenta anos, ele manteve guardada a contação desta história. Agora, delibera nos apresentar secamente (sem trocadilho) o reverso (idem) do natural  e inacessível volume morto, a água que deveria vir de cima, mas não vem, entremostrando ainda que a aridez daquele ermo não é suavizada nem perante a bela moça do tempo.

C A A T I N G A                                                

De chão a dentro, a perder de vista,
se estende este sertão de meu Deus, a caatinga,
e terra tão seca, sob o sol escaldante
que seu solo racha… e secam suas cacimbas.

É a chuva que não vem… é a água que não desce;
que não vem dar de beber a este terreno
e, com isso, o faz sofrer… dela carece
p’ra garantir seu suado sustento!

Vede suas árvores… estão esqueléticas;
suas folhas se foram e, em surda demência,
seus galhos, secos, num apelo patético
brem-se aos céus, invocando por clemência.

Vede seu estradão de barro, longo e poeirento,
a abrigar, em seu beiral, restos de animais
que se misturam ao passo, ainda quente,
de seu povo que, desolado, se vai.

No entanto, nem todo seu povo se vai…
há alguns que, confiantes na Providência,
permanecem, p’ra ver se a chuva cai.

Fazem, a São José, uma penitência
– pois, p’ra a caatinga, é a última esperança –
e, para abrandar a secura de seu solo,
nas romarias, de anjo, vão as crianças,
alvos sensíveis de sua fé simplória
– sua labuta pela vida é incessante –
que não se faz esmorecida ante a estiagem…
tampouco perante o calor escaldante
que entorpece, mas não lhes tira a coragem!

(José Rodrigues – BsB, década de setenta).

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12 de maio de 2015

(132)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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