Poemas de um piauiense desgarrado (VI)

Já contei aqui e repiso.

Exatamente no dia do massacre, eu me encontrava em viagem a serviço, hóspede do Hotel Guanabara, então em fase de generalizadas obras de melhoria, abarcando quase todos os andares. A escolha pelo pernoite no centro do Rio de Janeiro se devera à proximidade com a Regional do Bacen, frente também virada para a Avenida Presidente Vargas.

É curta a distância entre o tradicionalíssimo hotel que se espraia pelas bordas da Avenida Rio Branco e a igreja da Candelária, cuja porta de acolher os fiéis se abre nos fundos (ó pecado). Entanto, não ouvi tiro algum, absolutamente nada, e olha que tenho sono levíssimo e passo longe do Rivotril e dos seus primos inebriantes. No meu quarto (ou apartamento para os metidos a besta), silêncio absoluto, nenhum barulho de balas, que, soubemos depois, não eram perdidas. Ao contrário, eram balas achadas, muito bem achadas pelo bando que assassinara meninos pobres e andrajosos.

Nosso piauiense escutou os tiros, ele viu como acontecera a cena macabra. Quanto ao ônibus 174, vamos dar lugar ao lugar-comum:  isso é outra história, é outra viagem urbana sem urbanidade.

http://vermelho.org.br/noticia/261605-1

http://vermelho.org.br/noticia/261605-1

O  Menino da Candelária

Ouviu a noite um grito: “ ô moço…
Por favor… não mata eu não! ”…
Seguiu-se u’a triste canção
De tiros e de alvoroço.

A Candelária, imponente,
Qual mãe ferida e abatida,
Também ‘scutou a despedida…
E chorou-lhe o sangue quente.

Sobrou só, inerte no chão,
Corpo de um pobre menino
Que apelara a um coração.

Não… restou também vergonha
A um país cujo destino
É matar os que abandona!

José Rodrigues–BsB,04jan1994/8

 

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05/04/2017

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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