Poemas de uma paulista desgarrada
Temo me render aos solertes e traiçoeiros encantos e fascínio das poetas e dos poetas já que, aqui, meu espaço – um enclave – é tributário da prosa, onde se rejeitam por princípio versos e sua disposição estrófica. É uma briga feia, eu assumo quase envergonhado.
Pois é. Isso nada obstante, capitulo, fraquejo, esmoreço, peco.
No linguajar jurídico ou na letra dos avisos nos bondes e lotações do Rio de Janeiro da minha infância, dir-se-ia que recalcitro ao trazer para cá, pela décima quarta vez, mais um indivíduo do povo dito sonhador.
À semelhança da colega (carioca) e do colega (piauiense) de postagens anteriores, a nossa companheira da terra da virada cultural não mercadeja suas criações artísticas nas livrarias, nas feiras literárias, nos bares da Capital Federal abertos durante as madrugadas e manietados por barulhento decreto do silêncio. O que é legítimo, não o diploma regulamentar, mas a pura e simples venda e comercialização de obras artísticas. O trio agora enturmado compulsoriamente no recesso deste blog aufere estipêndios provindos de outras fontes.
A gente foi lá – e retornou.
SE EU TIVESSE
ALCANÇADO O OUTRO LADO
Se eu tivesse morrido
levaria comigo a ilusão
de que esses fiapos de tempo
pendurados no ar
não são tão comuns.
Pressinto agora e mais uma vez
a iluminação da inocência.
Ou o contrário.
Gozar do escárnio
da maldade humana
estando agora
noutra ponta da corda.
E rir como uma besta solta
no sol escaldante do inferno.
Todos os ventos me arrastam
pra outros sentidos.
A noite se amplia escura e calma.
Nada acontece.
A cidade de Brasília apenas range
lá fora da janela,
se “apaulistanando”.
Dá pra saber pelas sirenes infernais
rasgando a monotonia.
Além disso, nem um sonho,
nem um pesadelo.
Nada que brilhe na escuridão esfumaçada e longínqua.
Nada nesse minuto
me enternece nem desumaniza.
E nenhum instante fora deste
é tão deslumbrantemente belo,
pra quem topou de frente
com o frio vazio azul do nada.
Apenas permanecer é dádiva.
Ah, sim…Ouvir o barulho
do relógio da cozinha…
O delírio extasiante
do sentir permanente,
latejando a existência nos pulsos.
Viver, meramente.
E o depois
são lampejos esquizofrênicos
de cores bailando
na periferia das luzes.
Dazi Antunes
(Brasília – 30/12/14)

03 de janeiro de 2015
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