Álbum da Copa 2018

O de 2010, Áfica do Sul, eu localizei. Cadê o de 2014? Minha convicção, não o joguei fora, talvez o recomendável haja vista aquelas duas páginas do album cheias de chucrutes. Sem possuirmos sete vidas, nos massacaram sete vezes em Belo Horizonte (quanta ironia nesse nome).

Passado. O negócio é arrostar as rimas pobres e as agruras e desventuras do presente, do que circula por aí, pelo Brasil todo. Neste maio, passei uns dias em São Paulo e fui até ao Eldorado, com três das minhas quatro netinhas, as residentes naquela estranha cidade, como dizia o Artur Xexéo, hoje mais do que nunca preocupadíssimo com o balneário abandonado, o Rio de Janeiro – ele morador do Bairro Peixoto, onde nasci há um tempinho.

shopping paulista reservou pequeno espaço para troca de figurinhas. Mesas e banquinhos dispostos, nos quais sentavam crianças e adolescentes e respectivos pais e ou mães, de mistura com senhores e senhoras de idade provecta, todos e todas com bolos mais altos  do que o Monte Everest, as figurinhas presas por elásticos (item cobiçadíssimo) da mesma maneira que os padeiros da minha infância fechavam com barbante os embrulhos de pão consoante registra minha quase memória, enredo pobre perante o do Carlos Heitor Cony.

A incursão me levou a devanear. Desapercebido, cuidei no entanto que

  • fazer o álbum é santo remédio para espantar o Alzheimer, notadamente quando se vence a dificuldade (pelas vista cansada, nas palavras do povão, que não tem dinheiro para o divertimento) de preencher aqueles quadradinhos das tabelas que a gente encontra nos sites especializados, imprime e vai preenchendo de acordo com as figurinhas por qualquer forma adquiridas;
  • uma  dádiva não sermos obrigados a usar Tenaz ou goma arábica (meu Deus, o que é isso?) para colar as figurinhas, pois agora, com o adesivo “genético” (tal modernismo a gente aceita), elas não mais ficam empapuçadas, cheias de caroço;
  • malgrado empregando as melhores técnicas de enquadramento, figurinhas rebeldes são fixadas um pouco (um milésimo de milímetro) fora das molduras distribuídas pelas páginas do álbum, para desespero dos tokudos que somos – o jogador, o estádio e o símbolo tortinhos por todo o sempre. É a coisa mais triste do mundo;
  • um absurdo não existirem, como antigamente, as figurinhas carimbadas (literalmente), dificílimas de conseguir. Não me venham com aquela conversinha de que as “brilhantes” são especiais e igualmente raras. Uma ova, diriam meus avós. Basta lembrar que a Panini disponibiliza pelo site aquisição de até quarenta figurinhas. Um absurdo, um despropósito. Colecionadores e colecionadoras que se prezam não capitulam, repudiam a encomenda biônica, percorrem numa aflição gostosa todas as bancas em busca dos cromos (que nome ridículo) faltantes;
  • quem é Giuliano?
  • mais outra benção dos deuses e deusas, não há técnicos das seleções no álbum. Gosto do Tite, excelente profissional, pessoa bacana. Contudo, vocês podem imaginar o suplício, ler ao lado da figurinha dele o monte de platitudes que o simpático gaúcho espalha nas propagandas do maior banco privado brasileiro;
  • meu álbum é de capa dura;
  • todos e todas concordam em que o maior e mais qualificado e concorrido ponto de troca de figurinhas do Brasil (quiçá do planeta) é o da banca da 106 Norte, em Brasília;
  • terminar o álbum é desolador. As pessoas ainda ativas nos grupos de troca olham para o bestão ou para a bestona do álbum completo como se estivessem diante de  extraterrestre (aliás, o que faz por ali se já tem todas as figurinhas?). De nada adianta o ser indesejado e desagredador comprar outro album para preencher, sensação de déjà vu. Não passa de um desenturmado, logo se percebe no degredo, no desterro, não há retorno. Oblívio. Um pária. A maior tristeza do universo.

 

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18/05/2018

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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