Bacenianas (VIII)

gastrite define-se como a inflamação do revestimento mucoso do estômago. A mucosa do estômago funciona como barreira de defesa, oferece resistência à irritação e, normalmente, pode suportar um elevado conteúdo ácido.
No entanto, pode ficar “irritada” e inflamada por diferentes motivos.

(Portal São Francisco)

Meu prazo de cinco dias úteis esgotou-se. Não haveria tempo hábil para encerrar as postagens a respeito da minha primeira cota e das travessuras do Ede. Sucede que meu e-mail deu problema desde esse sábado, tendo agora sido restaurado por virtude da competência e dedicação do técnico de suporte da Microsoft. Neófito em assuntos de internet e outlook, este blogueiro e o Luan Silva mantivemos quatro conversas telefônicas ao longo dos três últimos dias e que ao todo somaram seis horas de entendimentos profícuos.

Tecnicamente, a cota é um documento oficial que é não é um parecer, com suas linhas doutrinárias exasperadas na defesa de uma tese. Consiste antes num alinhavado sintético que propõe à chefia adoção dessa ou daquela medida burocrática, não se caracterizando por ser  longa, mas também não muito curta. Na comparação com a literatura, a cota seria uma crônica, no máximo um conto se algo prolixa; o parecer, um romance.

Concedo-me uma entrelinha para indagar: por que a imprensa brasileira a toda hora anuncia que o ministro tal do Supremo (ou do TSE, ou do STJ) está na iminência de emitir parecer? Estudante de Direito da UnB dos anos setenta, aprendi quase nada das disciplinas jurídicas malgrado os excelentes professores e a convivência esporádica com os calouros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa, entre outros colegas brilhantes, ideologias à parte. O aluno relapso que fui não me impedira todavia de reter lição segundo a qual, notoriamente em julgamento de matéria levada a plenário, ministro não faz parecer, emite voto.

Àquela época, 1972/1973, a informática engatinhava, os sistemas eletrônicos eram muito limitados, daí as instituições financeiras enviarem ainda em papel seus balanços e balancetes ao Banco Central. Esses documentos contábeis vinham anexados a cartas de encaminhamento com a logo da remetente, sendo que alguns deles chegavam dobrados e redobrados e não se podia dizer tratar-se de origami após a viagem pelos malotes e separação nos escaninhos da triagem, num cenário de barata voa, de grampo voa. Tanto que muitos deles, velas de windsurf, se misturavam e encobriam toda a minha mesa de trabalho, dificultando a identificação.

De par com esse trabalho de carteiro e catalogador, Bernardo José Avidos Horta, chefe exemplar, homem educadíssimo, atencioso, me incumbira de controlar a regularidade da remessa desses balanços/balancetes, propondo expedição de cobranças aos bancos/financeiras/corretoras/distribuidoras faltosos. No vigor dos meus dezenove anos, estudante universitário e neobancarino, vibrei com a honrosa e distinguida missão dando um mergulho naquela papelório coalhado de números de responsabilidade da diretoria da instituição, chancelados no todo ou em parte pelo conselho fiscal – logo depois, apareceram as auditorias independentes e mais pra cá os comitês de auditoria.

A praxe consistia em expedir, aos bancos e financeiras impontuais, cartas de cobrança para que eliminassem a pendência. Ainda assim, alguns deles se mantinham impontuais e nada de envio dos balanços/balancetes como exigido pelas resoluções do Conselho Monetário Nacional e circulares do Banco Central. Em face desse quadro de inadimplência, este blogueiro, funcionalmente pouca coisa acima dos estagiários, propôs numa cota ao senhor chefe de subdivisão dirigir uma carta bem mais rigorosa, “que, devido a acidez de seus termos”, seria mais eficaz como expediente de cobrança.

Dia seguinte, muita ansiedade da parte do jovem para saber o que a chefia achara da rígida e categórica proposta ventilada na sua cota inaugural. Quando o burocrinha sentou-se na cadeira de rodinhas e sem braço (as de braço, somente para os de grau hierárquico superior), ruborizou, quedando-se inerte diante da “arte” de Tiberio Celso Ciampi, um dos profissionais mais competentes que conheci na minha carreira de décadas no Bacen. Intelectual refinado, na mocidade radialista em Juiz de Fora, redigia pareceres brilhantes em poucos minutos.

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Pois bem, esse graduado servidor de escrita fácil e escorreita pregou na “minha” carta de cobrança um resplandescente envelope de Sonrisal.

Para aliviar a ácida vergonha que persiste até hoje, o remédio é contar imediatamente o final da história do nosso intrépido Ede.

22/03/2017

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mmsmarcos1953@hotmail.com

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