Empoderamento pela solidão (III)

Quando eu tinha 7 anos, minha mãe disse
Faça alguns amigos Ou acabará sozinho/(…)/
Quando eu tinha 11 anos, meu pai me disse
Arranje uma esposa Ou acabará sozinho/(…)/
Quando eu tinha 20 anos
Minha história foi contada/Antes do nascer do sol
Quando a vida era solitária/(…)/Logo terei 60 anos
Meu pai tinha 61 Lembre da vida/E então sua vida se tornará melhor
Eu fiz o homem tão feliz quando/Escrevi uma carta uma vez
Espero que meus filhos venham e me visitem
Uma vez ou duas vezes ao mês/(…)”

(Lukas Graham!)

Já contei em algumas passagens destes meus escritos. Desde os tempos da Brasília do início da década de 60, minha casa sempre foi cheia de gente.

Atingido o ano de 1967, passamos a ser família de oito membros, pai e mãe e três filhos e três filhas, com uma curiosidade a qual não tem nada a ver com o assunto em tela, mas sempre procurei encaixá-la nalgum lugar. Seis partos normais (cesárea, naquela época, procedimento raríssimo) e as datas de nascimento dos irmãos e irmãs observaram a cronologia, os meses, os dias, em suma, a ordem hierárquica representada por quem viria por primeiro dar com os costados neste planeta amargo.

De par com o respeito à igualdade de gêneros (na sequência, uma mulher, um homem, uma mulher, um homem, uma mulher, um homem), os aniversários dos filhos e filhas do Lelio e da Dulcinéa se desenrolaram na escala do indivíduo mais velho para o mais novo, ortodoxa escadinha.

Primeiro aniversário no ano, o da primogênita, Lais: 30 de janeiro. A segunda festança, é a minha: 6 de março. Em seguida, sopra-se o bolinho da terceira da fila, Norma: 26 de maio. Os três restantes se embolam em setembro, sem no entanto afronta à precedência ocorrida na maternidade. Vejamos como isso se materializou. O quarto na linha de sucessão, Luiz, dia 7, o da moral e cívica por causa da parada militar. Fechando o pelotão, a dupla raspa do tacho: Mariza, dia 16, e o caçula, Joel, dia 19, quase abrindo a primavera. Resumindo: janeiro, março, maio e setembro (7, 16 e 19).

Entenderam? É, ficou um pouco confuso. Deixemos pra lá

Tal digressão praticamente teria engolido o espaço desta postagem – se eu porventura escrevesse para jornal ou revista. Neste blog, não há leitoras e leitores. Em compensação, também não há editor(a) e portanto nada de limitações de número de linhas, a bobajada corre solta.

Fugindo do lugar comum, do clichê, retomo o fio da meada.

Nosso apartamento, nº 606, no “C” da 306 Sul, ficava o tempo todo coalhado de crianças e adolescentes. Vivia-se uma fase de vacas gordas. Meu pai, com função de representação no Ministério da Fazenda, e minha mãe, prestes a ingressar no Ministério da Marinha (hoje, Ministério da Defesa), tinham condição financeira razoável, não éramos ricos e nunca o seremos. Não incomumente, compravam-se 50 pães, isso mesmo, cinquenta pães para as refeições, após as quais, saciados, lançávamo-nos pelas escadas ou pelo elevador para, confirmando a história iniciada pela turma da minha geração, brincar debaixo do bloco.

foto: Marcos Martins
foto: Marcos Martins
foto: Marcos Martins
foto: Marcos Martins

De alguma maneira, infância e adolescência felizes, gregarismo em todas as circunstâncias, em todos os rincões do cerrado e da terra vermelha. Que não me ouçam a Seira Beira e a Tati Bernardi, as duas personagens das anteriores postagens sob esse título, baluartes de posturas isolacionistas.

E tenho de me acautelar também com Marcelo Coutinho. O professor rapidamente se aproxima daqui falando acerca (sem trocadilho) da solidão, requisito para se dar vazão a nossa veia criativa.

foto: Marcos Martins
foto: Marcos Martins

21/09/2016

(210)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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