O seu futuro está em você (III)
O horror poucos dias depois da antevisão, na rua de baixo, a terceira da 707 Norte; o Mapati estabeleceu-se na segunda rua.
Minha filha Mariana veio ao meu encontro trôpega, expressão de pânico e desespero no rosto sem cor. O revólver fora encostado em seu pescoço quando começava a sair do carro dela. O bandido ordenou-a que não reagisse e entregasse a bolsa com todos os pertences (àquela época, praticamente não existia celular em profusão, poucos – ela inclusive – tinham o então caríssimo aparelho).
De natureza que dura uma eternidade para os protagonistas e de ordinário rápida para eventuais testemunhas, a cena em seu primeiro ato terminou com o bandido prosaicamente fugindo montado na mesma bicicleta em que chegara para o achaque (termo perigoso e mais desestabilizador nos dias de hoje).
Na defesa e proteção dos filhos e filhas, as mães são muito mais bravas e resolutas do que os pais, haja vista o que se verifica no mundo animal, com destaque entre os bichos para as leoas. Leão nem tão valente, entrei na minha casa (eu era vizinho do prédio do teatro), pus no banco traseiro do meu carro os dois rottweiler da Mariana (o macho, fortíssimo, de nome Abil; a fêmea, Tâmara) e, alucinado, saí à cata do bandido, que poderia estar pelas imediações. Com as duas feras agitadíssimas, babando e latindo nos meus ouvidos, percorri todas as ruas da quadra, residenciais e comerciais, nessas últimas perguntando a todos e todas que estavam nas mesas dos bares se porventura tinham visto um cara “assim e assado” numa bike, “sim, sim, acho que ele bebeu algo naquele boteco ali na frente”.
Transcorrida uma hora nessa busca desatinada e irresponsável, baldados meus esforços para capturar o meliante, voltei ainda muito agitado emocionalmente para o Mapati, onde se encontrava minha filha, a fim de ambos irmos sem tardança à delegacia para registrar a ocorrência, o famoso BO.
20 de março de 2015
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