Obsessões musicais

A vida vem em ondas/como um mar/
Num indo e vindo/infinito/
Tudo que se vê não é/
Igual ao que a gente viu há um segundo/
tudo muda o tempo todo no mundo

(Nelson Motta)

Não sei a causa, me peguei lembrando do Flavio Cavalcanti, a quem o Paulo Francis e o pessoal do Pasquim referiam como o Boca Junior. A juventude de hoje pode ser induzida a crer que o apelido significava alguma espécie de homenagem, algum vínculo com o time argentino de tantas conquistas e tradições. Engano. Consistia numa das formas de os adversários e opositores (eram muitos) atacar o apresentador realçando-lhe depreciativamente a boca pequena com os lábios finos que víamos na telinha não raro no horário nobre.

Quer gostemos ou não, o polêmico Flavio Cavalcanti entrou para a história da televisão sobretudo pelos programas muitas vezes líderes de audiência nas décadas de 1960 e 1970. Destacava-se (verdade que eram reduzidas as opções) no campo do entretenimento com o auxílio luxuoso (antecipo uma de minhas obsessões) dos jurados e juradas, em sua quase maioria pessoas representativas do mundo artístico. E o segmento da música não podia ficar de margem. Distribuíam-se no colegiado maestros, compositores, cantores, críticos e resenhistas de jornais e revistas, produtores.

Cito entre os integrantes desse heterogêneo corpo de julgadores o Mariozinho Rocha, um mestre na escolha e definição das músicas que ao longo de décadas fizeram ou fazem parte da trilha sonora das telenovelas globais. Cito também, e mais uma vez, o autor dos versos em epígrafe.

Nelsinho Motta, colunista de jornal, compositor, produtor e escritor. E escritor dos bons, que já nos proporcionou bons livros – Canto da sereia, A primavera do dragão, Noites Tropicais; o mais recente deles, 101 canções que tocaram o Brasil, sobre o qual há no site da Livraria da Travessa o seguinte comentário:

“Imagine-se numa mesa de bar, com seus amigos e amigas,
a ouvir Nelsinho Motta contar, com a riqueza de detalhes
que só um dos maiores entendidos no assunto,
a história íntima e surpreendente
das maiores obras primas da MPB.”

Analfabeto funcional, não posso cunhar um apanhado desses, faltam-me estofo, capacidade de pesquisa e abordagem histórica. Me descolo, pois, do descolado (essa é nova) intelectual carioca (que nasceu em São Paulo) para, com toda a modéstia possível, arrolar as músicas que me marcaram, na interpretação, digamos, oficial reproduzida no YouTube.

http://revista-mensch.blogspot.com.br/2012/06/musica-lana-del-rey-nova-diva-da-musica.html
http://revista-mensch.blogspot.com.br/2012/06/musica-lana-del-rey-nova-diva-da-musica.html

Inicio minhas referências com música estrangeira, sem parâmetros cronológicos, usando a letra traduzida pelo site Vagalume.

A composição me chegou originalmente numa noite fria e seca. Fui apresentado à bela cantora norte-americana, vestido escuro, cisne negro, mantos diáfanos em paradoxo, brincos redondos e enormes, lábios destroçadores, unhas traçantes, ambiente de poucas luzes, melodia enriquecida pelos violinos muitos e percussão sutil. O canto melancólico e sensual da intérprete se insinua pelo fone do meu celular, desliza melifluamente por meus ouvidos, dá uma passadinha em meu coração pulando alternativamente de um ventrículo ao outro, interferindo nos meus sentimentos mais recônditos, homem dissipado.

Lana Del Rey, você será eternamente jovem e linda.

Jovem e bela

Já vi o mundo, fiz de tudo
Tive meu pedaço do bolo agora
Diamantes, brilhantes
E Bel-Air agora
Noites quentes de verão no meio de julho
Quando você e eu éramos eternamente loucos
Os dias enlouquecidos, as luzes da cidade
A maneira como você brincava comigo como uma criança

Você ainda me amará
Quando eu não for mais jovem e bela?
Você ainda me amará
Quando eu não tiver nada além de uma alma que dói?
Sei que você irá, sei que você irá
Sei que você irá
Você ainda me amará
Quando eu não for mais bela?

Já vi o mundo, eu o acendi
Como meu palco agora
Fazendo anjos entrar
A nova era agora
Dias quentes de verão, rock and roll
A maneira como você tocava para mim no seu show
E todas as maneiras que conheci
Seu bonito rosto e sua alma elétrica

Você ainda me amará
Quando eu não for mais jovem e bela?
Você ainda me amará
Quando eu não tiver nada além de uma alma que dói?
Sei que você irá, sei que você irá
Sei que você irá
Você ainda me amará
Quando eu não for mais bela?

Querido Senhor, quando eu for para o céu
Por favor, deixe-me levar meu homem
Quando ele chegar, diga-me que Você o deixará entrar
Pai, diga-me se puder

Oh, aquela graça, oh, aquele corpo
Oh, aquele rosto, me faz querer festejar
Ele é meu sol, ele me faz brilhar como diamantes

Você ainda me amará
Quando eu não for mais jovem e bela?
Você ainda me amará
Quando eu não tiver nada além de uma alma que dói?
Sei que você irá, sei que você irá
Sei que você irá

Você ainda me amará
Quando eu não for mais bela?
Você ainda me amará
Quando eu não for mais bela?
Você ainda me amará
Quando eu não for bela e jovem?           

 

24/11/2016

(220)

mmsmarcos1953@hotmail.com

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